Da esquerda para a direita: Pedrinho, Pedro Lourenço,
Tânia Palhano e eu no papel do beato na peça “Nem só de pau vive o homem”, do
Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana – GETI - 1979
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“Nem só de pau vive o homem”
é um texto escrito em 1978 por este escrevinhador que vos tecla, transformado
em espetáculo de teatro pelo Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana. Naquele
tempo, como hoje, o país vivia de costas para si mesmo. Na época, por causa da
repressão feroz da ditadura que não deixava escapar nenhuma reflexão sobre
nossa realidade como nação, muito menos dava campo para pensamentos intimistas,
poéticos e filosóficos sobre a condição humana. Hoje, o país ainda é menos
democrático, porque há um massacre da mídia comercial contra nossos reais
valores culturais e humanos. A massa ignara permanece na ignorância, mantendo a
cleptocracia, a plutocracia e a corporocracia.
Mas, quero falar desse
espetáculo. Foi uma tentativa de fazer teatro político, preencher as grandes
lacunas entre as quais movia-se a juventude daquela época sombria, dar um grito
artístico de revolta e, ao mesmo tempo, de aclamação da boa arte, porque na
peça a gente declamava Augusto dos Anjos, Carlos Drummond de Andrade e até o
poeta violeiro Manoel Xudu. Nossas angústias e nossos medos estavam ali. A
insegurança da sociedade que nem tinha maior discernimento para entender seu
próprio drama, muito menos quando contado através da linguagem teatral.
Obviamente, a peça foi censurada. Foi um desabafo absolutamente inútil de um
grupo de jovens sonhadores? Creio que não. Ficou para nós, atores, a sensação
de que fomos receptores e difusores privilegiados de uma parte da luta social e
política do período em nossa cidade.
Meu compadre Marcos Veloso
pede para que eu mexa nos arquivos para ver se descubro o texto de “Nem só de
pau vive o homem”, que ele quer remontar. Não sei se terei sucesso em descobrir
esse material. Meus documentos sobrevivem numa total desorganização, as traças
já almoçaram boa parte dos velhos escritos da minha era pré-computador. De
qualquer forma, sou grato em ter merecido que um trabalho de tantos anos ainda
viva na memória de quem viveu a montagem e a considere ainda atual. É um
testemunho ostensivo da imensa força dramática daquela colagem, na cabeça de
quem sabe o que é o efeito do teatro.
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