Segunda-feira
é dia de ressaca, trabalho e lembranças dos prazeres do fim de semana.
Segunda-feira é dia neutro para quem não tem emprego, não bebe e não tem vida
social. Daí passo meu olhar nulo sobre as páginas em branco de um dia sem
textura. Mas, assim mesmo, tem demandas.
Por
uma segunda-feira consistente, que dê notícias dos bons orgasmos juvenis, que
dê vazão às antigas energias compulsivas. Uma segunda com gosto e um quê
singular das disposições renovadas, sem ser isso monótono, frio e sem cheiro.
Por uma segunda com sutis reentrâncias que possam ser vislumbradas por um
ex-competente bom vivant.
Nesta
segunda-feira errada, algo me diz, contudo, que não devo desperdiçar esses
espaços pequeno-burgueses do ciclo lunar. Tenho, ou gostaria de ter metas a
alcançar se fosse um sujeito organizado e metódico. Daqui para sexta-feira vou
tentar consolidar um projeto de comunicação, lembrando que hoje é o Dia
Nacional das Comunicações.
A
verdade é que ainda padeço, embora me gabe de não padecer, da síndrome da
segunda-feira, que é aquela imbecilidade de você achar que tudo recomeça.
Problema é enfrentar o medo de abrir a porta e não ter segunda-feira nenhuma, e
ver desolado esses restos de domingo que sobreviveram, todas aquelas baboseiras
desconexas que a gente lê nos livros de poesia ruim com gosto de aguardente
ordinária na boca ou qualquer remédio químico para o juízo meio demente dos não
crentes que jamais fecham suas semanas.
Para
começar a semana, vai este poema de Marcos Tavares:
“Acordo nas manhãs de segunda junto com
memórias,
imagens de um passado que se juntam a mim,
personagens de espelhos que ousei inventar,
amores amanhecidos, palavras que jurei
esquecer...”
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