Eu,
aos oito anos de idade, cantava esse corinho na Igreja Batista, as primeiras
viagens no mundo da música, da fé e da sexualidade, porque o garoto sapeca que
fui já andava de olho nas barras das saias das menininhas bonitinhas da escola
dominical. E lá se foram meus verdes anos, junto com minha fé e tudo o mais que
se perde pela vida afora.
O
mar da vida. Esse marzão que a gente tenta heroicamente desconstruir, e ele
construindo nosso funeral. Nesse instante, penso no pensamento de Confúcio,
aquele chinês que não deixou nenhuma obra escrita, mas é citado com a mesma
intensidade com que a turma do Facebook cita Clarice Lispector, a torto e a
direito, mais torto do que direito: “Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quiser.” Vai ver,
Confúcio jamais navegou e nem tinha conta no Facebook. Esse mestre oriental entra na minha crônica
de hoje como Pilatos entrou no credo. Sim, e o que significa essa expressão? O
que tem Pilatos com o credo? Confesso que ignoro, mesmo porque o assunto aqui é
mar, e o meu não está pra peixe.
É
que ando cheio de achaques da meia idade, o barquinho tomando água, o mar
encapelado e o farol apagado. Levado para um centro holístico de tratamento da
mulher, confesso que fui com forte incômodo no meu lado macho. Lá, passei a ser
submetido ao método bioenergético para diagnosticar meus males do corpo e da
mente. Fiquei sabendo que minhas vísceras estão mais ou menos sadias,
precisando de um reforço geral à base de argila, ervas, massagens e
experiências somáticas para derreter uns pepinos orgânicos. Sem descuidar dos
procedimentos médicos tradicionais, resolvi seguir o tratamento alternativo,
porque “meu barco é pequeno e grande é o mar” dos segredos da Natureza. Não sei
se estou preparado para tratar e modificar meus hábitos mentais e emocionais,
capitão que sou de uma embarcação fragmentada e linear. Entretanto, para quem
está perdido, qualquer vereda é caminho, como já dizia não sei quem. Nesse
grande mar da Natureza e suas leis, resolvi conduzir meu barquinho com a
humildade dos ignorantes e fugir do estigma dos que em nada acreditam, porque o
marinheiro solitário em plena procela tem que ter fé naquele farol tremeluzente
no horizonte sombrio.
Voltando
aos meus oito anos, lembro bem das manhãs na nossa casinha humilde na rua do
Sapo em Timbaúba, onde ouvia diariamente pelo rádio o programa do famoso
astrólogo Omar Cardoso e o pensamento positivo com que abria seu programa:
“Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor!” Meus níveis
energéticos precisam dessa injeção de ânimo.
Torquato
Neto também me socorre com seus versos para dar alguma luz ao barquinho
avariado e sem rumo: “E quando eu me vi sozinho/Vi que não entendia nada/nem de
porque eu ia indo/nem dos sonhos que eu sonhava”.
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