Gabriel, o verdadeiro anjo pornográfico
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Desenhado por Tomlini
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Tarcísio
Pereira ainda era pobre e ajudava a manter o teatro Cilaio Ribeiro, da
Federação Paraibana de Teatro Amador com seu parceiro de palco e de bar, meu
compadre Jacinto Moreno. Em cartaz, a peça “Amor à meia luz”, furor
pornô-erótico da época, uma espécie de
Pastoril profano em moldes mais “sérios”, de autoria de Moreno, tendo como
ator principal o jovem Gabriel no máximo de sua grandeza interpretativa, no
papel de um rapaz que come a mocinha nas mais delirantes peripécias.
Porém,
e sempre tem um porém, a real esposa do ator Gabriel jamais se convenceu do
distanciamento interpretativo do galã, principalmente nas cenas tórridas. O
texto sofreu toda sorte de cortes e censuras, mas sempre sobrava aquela parte
em que a personagem de Gabriel se atracava com a mocinha, os dois devidamente
nus.
Foi
durante a festa das Neves, teatro lotado, a peça teve início com o reprimido
Gabriel já mandando ver na sua heroína, quando à meia luz aparece a mulher do
canastrão carregando mais brabeza do que uma lata cheia de siri. O porteiro
Tarcísio Pereira ainda tentou barrar a entrada da megera disposta a baixar o
fogo do ator a golpes de Gillette. Jacinto Moreno, que fazia a luz do
espetáculo, foi chamado às pressas à portaria, na tentativa de botar panos
quentes no incidente que ameaçava a função.
De
comédia de erros e costumes, a peça descambou para a baixaria pura e simples. A
furiosa mulher enfiou a mão nas respectivas fuças da equipe técnica e entrou em
cena, disposta a comer o fígado de Gabriel. A platéia foi ao delírio, crente de
que se tratava de peripécias do enredo. Jacinto tentava acalmar o conflito, aos
berros:
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Senhoras e senhores, pedimos desculpas pela situação, isso não faz parte do
espetáculo!
Foi
quando se deu a cena de sangue. A senhora Gabriel rasgou a marca do Zorro na
cara do galã com seu estilete, a matéria desceu e a policia foi chamada.
Na
delegacia, faltou pouco para que toda a troupe fosse dormir no xilindró. Moreno
era o mais exaltado:
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Ela me chamou de fresco! Quero meus direitos autorais de macho!
Terminada
a acareação, foi todo mundo para a bagaceira da festa das Neves tomar São Paulo
com tira-gosto de churrasco de gato.
Gabriel
pediu divórcio por “incompatibilidade de gênero”. “Vou arriscá-la completamente
da memória”, prometia o violentado ator.
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