Esse aparelho é o manipulador, onde a gente transmitia as mensagens em código Morse |
Hoje é dia do
telegrafista. É como se fosse dia do piloto de dirigível, uma profissão
obsoleta e extinta.
Fui telegrafista
ferroviário. Decifrava o código Morse em avisos da empresa, recebendo e
transmitindo através de um mecanismo do começo do século XX. Como o impressor
dos pontos e linhas não funcionava mais, a gente precisava apurar o ouvido para
decifrar as mensagens através das batidas de uma lata de leite velha, acoplada
no aparelho receptor e emissor, que a gente chamava manipulador codificador. Em
1838, se deu a primeira transmissão através desse mecanismo inventado pelo
americano Samuel Morse. Quando ingressei na Rede Ferroviária Federal em 1976,
ainda estava em uso.
Meus antigos
colegas telegrafistas estão quase todos mortos. Tem um que passa aqui pela
minha porta todos os dias, montado numa bicicleta Monark modelo 1980. É meu
compadre Geraldo, rádio telegrafista da estação de trens em Itabaiana. Quando
comecei a trabalhar, ele estava se aposentado. Impossível calcular a idade de
Geraldo. Não mudou muita coisa. A mesma cabeleira cheia, gestos leves,
paciente, indiferente ao tempo.
O aparelho
decodificador do código Morse hoje está nos museus. Geraldo está nas ruas, com
sua bicicleta e seu jeito de imortal. Eu, seu aprendiz de telegrafista, caminho
célere para o apagar das luzes. Aposentado, enfrento a dureza de ser um “vagabundo”,
como disse um dia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para ele e tantos
outros, os aposentados são culpados pelas crises do país.
Apesar do notável
de seu trabalho, Morse, o inventor do telégrafo, enfrentou a oposição de supersticiosos
que culpavam o seu invento por todos os males.
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