sexta-feira, 24 de maio de 2013

24 de maio - Dia do Telegrafista


Esse aparelho é o manipulador, onde a gente transmitia as mensagens em código Morse


Hoje é dia do telegrafista. É como se fosse dia do piloto de dirigível, uma profissão obsoleta e extinta. 

Fui telegrafista ferroviário. Decifrava o código Morse em avisos da empresa, recebendo e transmitindo através de um mecanismo do começo do século XX. Como o impressor dos pontos e linhas não funcionava mais, a gente precisava apurar o ouvido para decifrar as mensagens através das batidas de uma lata de leite velha, acoplada no aparelho receptor e emissor, que a gente chamava manipulador codificador. Em 1838, se deu a primeira transmissão através desse mecanismo inventado pelo americano Samuel Morse. Quando ingressei na Rede Ferroviária Federal em 1976, ainda estava em uso. 

Meus antigos colegas telegrafistas estão quase todos mortos. Tem um que passa aqui pela minha porta todos os dias, montado numa bicicleta Monark modelo 1980. É meu compadre Geraldo, rádio telegrafista da estação de trens em Itabaiana. Quando comecei a trabalhar, ele estava se aposentado. Impossível calcular a idade de Geraldo. Não mudou muita coisa. A mesma cabeleira cheia, gestos leves, paciente, indiferente ao tempo.  

O aparelho decodificador do código Morse hoje está nos museus. Geraldo está nas ruas, com sua bicicleta e seu jeito de imortal. Eu, seu aprendiz de telegrafista, caminho célere para o apagar das luzes. Aposentado, enfrento a dureza de ser um “vagabundo”, como disse um dia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para ele e tantos outros, os aposentados são culpados pelas crises do país. 

Apesar do notável de seu trabalho, Morse, o inventor do telégrafo, enfrentou a oposição de supersticiosos que culpavam o seu invento por todos os males.

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