Boi de
carnaval se recusa a sair fora da época.
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Vocês
vejam o que é a força da tradição: os bois de carnaval e blocos de caboclinhos
reclamam da falta de apoio e dos desrespeito com que são tratados no carnaval
de Itabaiana, com os carros de som chamados paredões azucrinando todo mundo e
impedindo a livre manifestação dos blocos tradicionais. Agora, o Ponto de
Cultura Cantiga de Ninar promove um festival de boi que foi adiado por falta
de... bois!
Numa
cidade onde dormem mais de 30 bois, apenas dois bois se inscreveram,
inviabilizando o “1º Cortejo de Bois de Carnaval” fora de época na cidade.
Através do Fundo de Incentivo à Cultura (FIC), o Governo já garantiu recursos
para adereços e fantasias dos bois, além de diárias para um oficineiro que
ministrará curso de Boi de Reis e produção de um DVD que será distribuído com
os participantes, mostrando a festa, a oficina e os brincantes, com suas
cantigas e suas histórias.
Diante da
escassez de bois, estamos apelando para os bois vizinhos, nas cidades de São
José dos Ramos, Pilar e Salgado de São Félix. Em Pilar, é famoso o Boi de Nair,
que já garantiu presença.
Há várias
versões sobre a origem do auto do boi. Nosso compadre Edglês Gonçalves, o
Gonchá, garante que, assim como a burrinha, o boi foi desgarrado do Boi de
Reis, brincadeira que tem 78 personagens, esse teatro popular que estamos
querendo resgatar com a oficina no Ponto de Cultura, a cargo do mestre Charles.
No enredo
do boi, consta que Catirina desejou comer a língua do boi, por estar grávida.
Seu marido, o Mateus, matou o bicho. O patrão soube da morte do bovino e mandou
capar o pobre Mateus que recorreu a orações fortes e ressuscitou o animal de
estimação do fazendeiro. No nosso caso, o boi está mortinho da silva. Vamos
ressuscitar essa cachorro da mulesta pra sair fora de época.
E sabe por que queremos
mudar a hora do boi sair? Porque aqui é uma escola de desajustados, de
rebeldes, criadores de causos e casos, os famosos “pinos redondos nos buracos
quadrados” de que fala o Jack Kerouac, escritor maldito americano. Para ele, os
que não se conformam com o estabelecido, os que forçam as mudanças são vistos
como loucos, mas “as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o
mundo, são as que o mudam”.
Jamais alguém viu boi de
carnaval na rua em Itabaiana, fora da época carnavalesca. Também se dizia que
era mais fácil um boi voar do que Maurício de Nassau terminar a ponte do Rio
Capibaribe em Recife. Pois o boi voou.
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