sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA



O naufrágio que inspira os barcos
Adeildo Vieira

Dizem que destino a gente traça, que agarramos o timão do barco da vida pra livrá-lo seguramente das intempéries, das tormentas que levem a naufrágio. Mas, mesmo com as duas mãos grudadas neste timão, estejamos preparados para as surpresas vindas do horizonte, lá de onde vêm os primeiros raios de sol, e que podem levar o tão valioso barco de encontro aos rochedos. Nem todo barco alcança seu fim pelo avanço gradativo da ferrugem.
Mais importante do que se embrenhar nos mares, viver é saber das escolhas, é se apoderar de valores que fortaleçam a confraria dos barcos a serviço das missões que buscam um norte libertador. O mais sublime mesmo é saber da segurança de não se navegar sozinho e ainda ter a certeza de que há quem siga a rota da mesma constelação que acreditamos. Aquela cujas estrelas anunciam que depois do horizonte encontraremos um terra-à-vista.
Há muito que escolhi a rota dos meus dias. Coloco minha força vital a serviço das boas causas humanas, dos propósitos que chamam a humanidade para o respeito às diferenças e para o fim das vilanias orquestradas pela exploração do homem pelo homem. Nessa trilha sinto que não estou sozinho. Sou inspirado por guerreiros e guerreiras que fazem deste navegar constante uma aventura maravilhosa, com festa no convés e armas apontadas para os monstros do mar, esses inquisidores que distribuem armadilhas a cada milha de nossa missão.
Tempestades hão de vir, esta é a certeza que se tem ao navegar. Mas é a doçura com que a quilha dos seus dias corta as ondas que define a escolta para seu barco. Sendo assim, um inevitável naufrágio se dará como encantamento ante os navegadores de coração dados ao mar, dados a amar. A dignidade do saudoso barco, a doçura, a esperança a cada nascer de sol, a luta obstinada pela felicidade coletiva farão nascer mais uma estrela no céu. Uma estrela de tão forte lume que alumiará os conveses festeiros e ao mesmo tempo guerreiros dos navegantes que fazem da vida uma aventura digna de se exercitar. Uma estrela que nos conduz para o infinito de nossos sonhos mais coloridos.
Neste momento em que escrevo este texto sinto uma tristeza animadora, daquela que nos enternece, mas também nos encoraja pra seguir a nossa rota de dignidade pelo viés da doçura, da esperança e da alegria. Minha amiga Ceci Macena foi navegar os mares do céu, depois de enfeitar nossa missão de aventureiros da vida na busca obstinada por amanhecer de paz. Estou triste, mas me sinto fortalecido por essa nova estrela que surge no céu e que continuará enfeitando meus dias e as lutas que acredito, de coração e violão em punho.
Ceci, sua partida nos mostrou que navegar é maior do que viver, pois a vida segue com força em nós, que levaremos adiante a essa navegação, inspirados pela luz do seu sorriso, agora estampado no céu de nós mesmos. A vida pulsará pra sempre nos barcos que te acompanharam até a última milha.



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