O
naufrágio que inspira os barcos
Adeildo
Vieira
Dizem
que destino a gente traça, que agarramos o timão do barco da vida pra livrá-lo
seguramente das intempéries, das tormentas que levem a naufrágio. Mas, mesmo com
as duas mãos grudadas neste timão, estejamos preparados para as surpresas
vindas do horizonte, lá de onde vêm os primeiros raios de sol, e que podem
levar o tão valioso barco de encontro aos rochedos. Nem todo barco alcança seu
fim pelo avanço gradativo da ferrugem.
Mais
importante do que se embrenhar nos mares, viver é saber das escolhas, é se
apoderar de valores que fortaleçam a confraria dos barcos a serviço das missões
que buscam um norte libertador. O mais sublime mesmo é saber da segurança de
não se navegar sozinho e ainda ter a certeza de que há quem siga a rota da
mesma constelação que acreditamos. Aquela cujas estrelas anunciam que depois do
horizonte encontraremos um terra-à-vista.
Há
muito que escolhi a rota dos meus dias. Coloco minha força vital a serviço das
boas causas humanas, dos propósitos que chamam a humanidade para o respeito às
diferenças e para o fim das vilanias orquestradas pela exploração do homem pelo
homem. Nessa trilha sinto que não estou sozinho. Sou inspirado por guerreiros e
guerreiras que fazem deste navegar constante uma aventura maravilhosa, com
festa no convés e armas apontadas para os monstros do mar, esses inquisidores
que distribuem armadilhas a cada milha de nossa missão.
Tempestades
hão de vir, esta é a certeza que se tem ao navegar. Mas é a doçura com que a
quilha dos seus dias corta as ondas que define a escolta para seu barco. Sendo
assim, um inevitável naufrágio se dará como encantamento ante os navegadores de
coração dados ao mar, dados a amar. A dignidade do saudoso barco, a doçura, a
esperança a cada nascer de sol, a luta obstinada pela felicidade coletiva farão
nascer mais uma estrela no céu. Uma estrela de tão forte lume que alumiará os
conveses festeiros e ao mesmo tempo guerreiros dos navegantes que fazem da vida
uma aventura digna de se exercitar. Uma estrela que nos conduz para o infinito
de nossos sonhos mais coloridos.
Neste
momento em que escrevo este texto sinto uma tristeza animadora, daquela que nos
enternece, mas também nos encoraja pra seguir a nossa rota de dignidade pelo
viés da doçura, da esperança e da alegria. Minha amiga Ceci Macena foi navegar
os mares do céu, depois de enfeitar nossa missão de aventureiros da vida na
busca obstinada por amanhecer de paz. Estou triste, mas me sinto fortalecido
por essa nova estrela que surge no céu e que continuará enfeitando meus dias e
as lutas que acredito, de coração e violão em punho.
Ceci,
sua partida nos mostrou que navegar é maior do que viver, pois a vida segue com
força em nós, que levaremos adiante a essa navegação, inspirados pela luz do
seu sorriso, agora estampado no céu de nós mesmos. A vida pulsará pra sempre
nos barcos que te acompanharam até a última milha.
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