O
mundo canta todas as línguas, inclusive o inglês!
Adeildo
Vieira
Salif Keita, de Mali |
O
melhor meio de divulgação da música é com certeza o rádio. Foi e sempre será
aquele meio que põe canções no inconsciente coletivo da população, que constrói
fãs para este ou aquele artista, que consagra obras musicais e até define rumos
para a cultura musical brasileira. É por isso que nós músicos travamos uma luta
eterna pela democratização deste poderoso veículo de comunicação. Mas,
infelizmente, as ondas do rádio, por serem manipuladas por empresas ou
governos, estão, em sua esmagadora maioria, submetidas a interesses ideológicos
que não servem ao bem público e à consagração de valores que promovam o
crescimento do cidadão no que tange ao seu direito sagrado à boa informação.
Há
uns dez anos atrás, em um debate sobre a programação da nossa Rádio Tabajara,
única empresa radiofônica que se abriu para discussão pública, discutíamos
sobre o perfil musical da emissora, quando nos foi explicado o percentual de
canções de artistas paraibanos na programação, mas também daquilo que rotularam
de MPB e de músicas ditas internacionais.
O
que me chamou a atenção é o conceito que os profissionais radiofônicos têm de
música internacional. Trata-se do rótulo que dão a toda música cantada em
língua inglesa, como se fora do Brasil todos os países fossem colônia dos
Estados Unidos e adotassem esse idioma na execução de sua música. Até parece
que vivemos a inércia do movimento anglicista no mercado musical brasileiro dos
anos setenta, quando as gravadoras promoviam artistas que gravavam em inglês,
criando cantores pseudoamericanos como Morris Albert, Terry Winter, Christian
(hoje na música dita sertaneja) e Mark Davis, o hoje famoso Fábio Junior.
O
fato é que este pensamento equivocado priva o ouvinte de todo Brasil de
conhecer outras culturas de países de belíssima identidade musical. Em
detrimento disso, acabamos por conhecer artistas de qualidade duvidosa, mas que
manifestam sua obra em inglês, preenchendo equivocadamente o perfil de música
do mundo inteiro. É inaceitável que a população do maior país da América do Sul
não conheça sequer a música dos países vizinhos. Não ouvem sequer a música dos
países africanos de língua portuguesa. Ouve-se Lady Gaga, mas não se conhece
Marisa, maravilhosa cantora de fados dos encantos portugueses. Justin Bieber é
artista internacional com direito a ampla divulgação no Brasil, mas o mesmo não
se diz do cubano Pablo Milanés, do dominicano Juan Luis Guerra, do malês Salif
Keita. Cito clássicos musicais de vários países, porque através deles os
ouvintes teriam acesso a outras matrizes musicais e assim acenderiam seu
interesse por novos caminhos em seu gosto de apreciar canções.
A
música internacional ecoa pelos cinco continentes, mas só as expressões de
língua inglesa passam no filtro sonoro das emissoras de rádio brasileiras. Nada
mais sintomático, considerando os interesses imperialistas americanos que, pelo
viés da pujança econômica e política,
ditam as regras para o destino cultural do nosso país. Aliás, quem
determinou que o povo não se interessaria por músicas de países asiáticos,
africanos ou europeus? E por que essas músicas acabam invadindo as ondas do
rádio quando são trilhas de novela? Deixo a pergunta de fácil resposta para os
programadores de rádio e para os ouvintes que são privados de viver as emoções
que os sons universais podem nos proporcionar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário