Blecaute |
Nesta terça-feira de Carnaval, vou no Youtube e ouço Blecaute, o General da Banda. Esse Blecaute era um compositor e cantor que nasceu em São Paulo. Menino negro, foi engraxate, vendedor de jornal e frentista de posto de gasolina. Veio para o Rio de Janeiro para fazer sucesso no carnaval carioca nos anos 40. O apelido "Blecaute”, uma forma abrasileirada da expressão inglesa "black out", ou seja, "preto por fora", era uma provocação racista que ele encarava com naturalidade, conforme diz o site Musicograma.
Morreu em 1983, aos 64 anos. Neste carnaval
de 2013, reflito sobre a obra deste artista popular nestes 30 anos de sua
morte, lembrando sua música mais famosa, o “General da Banda”. Na letra simples
da marchinha: “Mourão, vara madura que não cai, catuca por baixo que ele vai”.
Quando os generais tomaram o poder em 1964, proibiram a execução do “General da
Banda”.
Para mim, o General da Banda ficou como uma
espécie de carro chefe das músicas que gozavam, ridicularizavam e ironizavam o
regime militar, mesmo sem ter sido esta a intenção quando o compositor a criou,
como parece ser o caso do Blecaute. O talento e a criatividade de antigos
foliões me vêm à mente nesta terça-feira de carnaval sem graça de 2013. Para
mim, um General da Banda foi o tipógrafo e comunista Nabor Nunes de Figueiredo,
que saía com fantasias extremamente criativas nos velhos carnavais de
Itabaiana, alegorias que criticavam o regime, uma espécie de Ala Ursa engajada,
o bloco de um homem só com seus conceitos socialistas e sua cabeça arejada de
boêmio.
O General da Banda é o cara cuja postura
confronta diretamente com toda mentalidade autoritária e castradora das
liberdades. O velho repentista Pinto do Monteiro cantava: “Quem me governa é
Jesus, corno nenhum me governa”. Era um General da Banda da poesia popular.
Esses artistas populares como Nabor Nunes me fazem reviver um país que, mesmo
no sufoco de uma ditadura cruel e burra, participaram com intensidade e
grandeza no eterno cordão dos que cantam a vida e a liberdade. “Faz escuro, mas
eu canto”, celebrava com sua voz rouca o poeta Belchior, um dos seresteiros nas
noites dos generais de quepe ridículo e postura idem que queriam mandar em
nossos carnavais e em nossas vidas. “Não põe corda no meu bloco nem vem com teu
carro chefe”, declamava João Bosco, outro General da Banda que “não dava ordens
ao pessoal”.
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