CORDEL
O encontro
de Zé Carroceiro com Zeca Roceiro
Todos dois
eram José
Mas
receberam apelidos
Relativos
aos trabalhos
Pelos
rapazes exercidos
Um
trabalhava na roça
Outro com
uma carroça
Assim eram
conhecidos.
Zeca desde
pequenino
Chamavam o
Zé das Dores
Que
trabalhava na roça
Lá na Lagoa
das Flores
Vivia a sua
luta
Nessa eterna
labuta
Dos nossos
trabalhadores.
O outro era
da praça
Morando lá
na cidade
Prestando o
seu serviço
À toda
comunidade
Sua vida
vinha e ia
Levando
mercadoria
Com grande
facilidade.
E para isso
contava
Com um
pequeno jumento
E fazia da
carroça
Seu
principal instrumento
Fosse de
noite ou de dia
A todo mundo
atendia
Com muito
contentamento.
Conhecido
como Zeca
Seu nome era
Zé Luís
Vivia na sua
lida
Era pobre,
mas feliz
“Peito firme
e braço forte”
Calejado no
transporte
Sempre foi
aonde quis.
Por se
chamarem de Zeca
Como já
antes afirmado
Para evitar
confusão
Na roça e no
mercado
Um era Zeca
Roceiro
O outro, Zé
Carroceiro
E o recado
foi dado.
O Zé Carroceiro
era
Do setor
municipal
E na limpeza
urbana
Trabalhava,
afinal.
Parecia até
um bicho
Pois na
coleta do lixo
Ele era o
maioral.
Rua abaixo,
rua acima
Recolhendo o
que achava
Junto com o
seu jumento
Que no
transporte ajudava
Dia e noite
e noite e dia
Para todo
canto ia.
Assim a vida
passava.
O outro
Zeca, o roceiro,
Viva no
povoado
Onde
plantava e colhia
Cuidando de
seu roçado.
Fosse
inverno ou verão,
No frio, no
calorzão
Esse era seu
passado.
Além de ter
o jumento,
O Zé Carroceiro
tinha
Um cachorro
vira-lata
Apelidado
“Sardinha”
Que sempre
lhe acompanhava
Enquanto ele
trabalhava
Na obrigação
que tinha.
Uma seca
aconteceu
Lá naquela
região
Com muita
gente sofrendo
Faltando
alimentação.
O sol
castigava tanto,
Era muito
choro e pranto
Atingindo a
multidão.
Quando
acontece uma seca
Eles
prometem ajudar
Mandar
comida e trabalho
Para o pobre
trabalhar.
Mesmo a
verba sendo pouca,
Mesmo sendo
um cala-boca,
Serve para
aliviar.
Um dia o
Zeca Roceiro
Procurou a
prefeitura
Pra
conseguir uma ajuda
Pois a vida
tava dura.
Aceitava
qualquer lida
Pra
conseguir a comida
Fora da
agricultura.
A tal frente
de trabalho
Se mexe de
qualquer jeito
Não importa
se o serviço
Fica
bem-feito ou mal-feito.
Pra
conseguir um lugar
Basta você
bajular
Um político
ou o prefeito.
Fazem açude
do plano
Conserta-se
cerca a rodo
Trabalhando
todo dia
Com afinco e
com denodo
Cavam buraco
na terra
Vem outra
turma e aterra
Desmancha o
trabalho todo.
Na cidade é
diferente:
Fazem
limpeza no rio,
Tiram grama
das calçadas
E aterram o
baixio,
Até aprece
uma posta.
Mas o que
prefeito gosta
É de pintar
meio-fio.
Pra fazer
esse serviço
Que é sempre
ligeirinho
Não precisa
muita arte
E nem
tampouco carinho
Basta um
balde de tinta
Onde um
limpa o outro pinta:
É serviço de
baixinho.
Agora deixo
de lado
As obras
“prefeiturais”
Vamos trará
dos dois Zecas
Que já
falamos demais
Para falar
da disputa
Dessa
inexplicável luta
Que está em
todo jornais.
O Zeca
Roceiro estava
Numa praça a
trabalhar,
Pegando toda
sujeira
Juntando num
só lugar.
Era um
serviço “moleza”
Pois
competia à “limpeza”
Todo lixo
transportar.
O Zeca
aproveitava
Esse
instante ideal,
O momento em
que os outros
Juntavam o
material.
Descansava
um pouquinho
E comia o
lanchinho
Que tinha no
embornal.
O lanche de
Zeca era
Assim um
tanto frugal:
Um pão e
duas bananas
Um quase
nada de sal
Para um
pouco de doçura
Um naco de
rapadura
Feita do
canavial.
Só que o
jumento de Zé
Era um
animal esperto
Foi
farejando a comida
Que tinha
ali por perto
Foi chegando
de mansinho
E agindo
ligeirinho
Atingiu o
ponto certo.
Pegou as
duas bananas
Começou a
mastigar
Zeca ouvindo
o barulho
Se virou,
mas devagar
Nisso o
cachorro latiu
E o outro
José viu
A desgraça
começar.
A verdade é
que o jumento
Agindo
ardilosamente
Comera duas
bananas
Furtadas
rapidamente
E depois,
pra desespero
Daquele
pobre roceiro
Inda palitou
o dente.
Quando Zeca
percebeu
O que tinha
acontecido
Se zangou
com o jumento
Pelo que
tinha comido,
Mas
percebeu, afinal,
Que age
assim o animal
Por carecer
de sentido.
E com raiva
se virou
Para o dono
do jumento
E partiu pra
cima dele
Com o maior
xingamento.
Foi quando a
coisa fedeu
Com o bafafá
que deu
Ali naquele
momento.
O Zé pegou o
chicote
Zeca pegou a
enxada
Ficaram se
ponteando
E estudando
a parada.
Só que
nenhum avançava
Olhava o
outro e xingava.
A briga esta
empatada.
O povo
ficava em volta
Torcendo por
confusão
Apostando em
um e outro
Dinheiro de
mão em mão.
E os dois só
se olhando
De vez em
quando xingando
Sem partir
para a ação.
O rolo
continuava
Mas leve
como cortiça.
Gritos
vinham da “torcida”,
Um reclama,
outro atiça.
Quando
alguém ali no meio
Gritou já de
peito cheio:
“Ramo chamá
a puliça!”
Acordaram o
delegado
Que se
chamava Cerezzo
Que chegou
com um soldado
E como o
semblante teso
Assim que se
aproximou
Muito bem
alto gritou:
“Teje todo
mundo preso!”
E rebocaram
os quatro
Para a
delegacia
O jumento ia
na frente
E o dono lhe
seguia.
No meio do
coça-coça
Só não
levaram a carroça
Porque
dentro não cabia.
O delegado
roendo
Nervosamente
a unha
Gritava pra
todo lado:
– Aqui
ninguém se acabrunha!
E mostrando
“otoridade”
Disse ao
povo da cidade:
– Apareça a
testemunha!
Ninguém se
prontificou
A atender ao
pedido
E se ninguém
falou nada
Também nada
foi ouvido.
O começo,
meio e fim,
Ninguém
sabia, enfim,
O que tinha
acontecido.
O jumento
então zurrou
Pois
pretendia falar.
O delegado
entendeu
Que ali não
era lugar
Pra
conversar com jumento
E que seu
depoimento
Nada ia
acrescentar.
Desse modo
resolveu
Botar todos
na prisão.
Nisso falou
o prefeito
No meio da
multidão:
– Em nome da
prefeitura
Eu determino
a soltura.
Acabou-se a
confusão.
E quando os
quatro saíram
De lá da
delegacia
O Zeca olhou
para o Zé
Dizendo com
simpatia:
– Agora é
tudo acabado,
Esqueçamos o
passado
Vivamos com
alegria.
Logo o Zé
admitiu
Que o
jumento errara.
Fora só por
causa dele
Que tudo se
iniciara.
E no meio do
alvoroço
Pediu
desculpas ao moço
Pois amigo é
coisa rara.
Zeca aceitou
as desculpas
Que o outro
oferecia
Pois viu que
naquela briga
Nenhuma
razão havia.
Sem nenhum
ressentimento
Deu a comida
ao jumento,
Agindo com
cortesia.
Depois de
tudo acalmado
Resolveram
conversar
Zeca
convidou o outro
Para ir lhe
visitar.
Disse ele
com troça:
– Pode levar
a carroça
Que o
jumento vai gostar.
E hoje, no
fim do dia
Quando a
tarefa termina
A limpeza e
o transporte
Do que
restou da faxina
Vai cada um
para o lar
Comer,
dormir, descansar,
Pra começar
a rotina.
Mas no final
da semana
O José vai
decidido
Visitar o
seu amigo
Seu parceiro
preferido
Sai montado
na carroça
E vai direto
pra roça
Onde é bem
recebido.
E passa lá
os dois dias
Na calmaria
da mata
Os dois
ficam passeando
Longe da
labuta ingrata.
Até o tal do
“Sardinha”
Corre atrás
de galinha
Mas quando
pega, não mata.
Geraldo Xavier
(Poeta cordelista itabaianense radicado na Bahia)
Gostei da publicação. Mas, quem vai ler o poema para o novo "funcionário" da Prefeitura?
ResponderExcluirGeraldo