Sabe como é
política. Você não escapa. Quando você vê, está sendo questionado, inquirido,
forçado a dar sua opinião que não serve pra nada. Mas tem que marcar posição.
Dizer em quem vota, pegar a bandeira, sair na rua vestindo a camisa, brigar com
o vizinho “do contra”, cantar a musiquinha infame da campanha. Tem uns
eleitores que fazem questão de botar o retrato do candidato até no WC. Uns
vivem de bronca com todo mundo, falam mal dos políticos, mas quando descolam uma
promessa de emprego de vigia ou professor rudimentar em uma escola pública de
sítio, amansam o discurso.
“Eu corro de
minha casa o político que aparecer pedindo voto”, diz o enfezado eleitor. Corre
não, que eleitor adora um aperto de mão, um abraço, um afago dos “homens”.
Sujeito de posição que chega em casa de pobre é sempre bem recebido, mesmo que
seja aquele político safadinho que passou quatro anos sacaneando com a cara de
todo mundo, metendo a mão com gosto e sem pena no tal “erário”. Como digno representante
da plebe ignara, o vereador promete fiscalizar bem o nosso tesouro, se bem que
se sabe que quando vereador pede pra o povo está pedindo pra dois.
Mas é isso.
Eleição é gostoso e muito engraçado. No entanto, quem nasce pra cavalo vai
morrer pastando. O eleitor é sempre o enganado. O candidato geralmente não
cumpre as promessas. Como eu sou um sujeito ligeiramente babaca, teimo em
acreditar em certas figuras. Uns por serem amigos, outros porque conheço desde
menino. São membros natos do meu restrito clube de pessoas de confiança. Por
exemplo, esse rapaz que é candidato a prefeito de Itabaiana, o Lúcio Flávio.
Foi criado na minha rua, respeitado e de boa família. Não é político
profissional, subentendendo-se como profissional desse ramo o sujeito
acostumado a mentir e polir todos os dias sua reluzente cara de pau. O seu
candidato a vice, Zé Ramos, é meu irmão postiço porque nasceu no mesmo dia, mês
e ano que eu. Só não foi na mesma hora por causa do fuso horário, já que vim ao
mundo em Timbaúba e ele na Fazenda Linda Flor, um pulo de pulga de distância.
Fora isso, é um bom gestor e tem boas intenções para melhorar sua terra. Ele
invoca razões práticas para ser o escolhido: se a velha Itabaiana do Norte não
mudar o perfil dos seus gestores, corre o risco de virar distrito de
Juripiranga.
Houve época em
que eu brigava muito na política local. Nas rodas de cachaça, a gente só não se
pegava na tapa porque ninguém conseguia localizar bem o outro na sua frente. Já
fui até intimado pelo Exército por causa de denúncia de um certo prefeito
reacionário, nos tempos da ditadura. Hoje estou enveredando pelo perigoso
caminho da galhofa quando o assunto é política. Desacreditei geral. Neste ano
saio, no entanto, do meu auto-exílio para torcer pela vitória desses dois,
Lúcio e Zé. Sabe como é esse negócio de amor filial. Gosto de minha terra, o
que se há de fazer?
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