Enxuto (de branco) com o blogueiro em reunião dos poetas de cordel |
Valdo
Enxuto atravessou meio século como empregado dos Correios e Telégrafos. Nesse
tempo todo, reza a lenda que ele produziu, se muito, uns dez anos para a
empresa. O restante ele recompensou com doses maciças de animação e entusiasmo,
como um rapaz divertido e dinâmico que sempre foi. Acertando ou errando, mas
sempre sincronizado ao coração dos amigos, Enxuto vai deixar marcada sua
passagem sobre a face da terra como uma pessoa aprazível, um sujeito folgado,
com fulgor de cometa luminoso e radiante.
Senhor
absoluto do seu papel de embaixador da alegria, Valdo é figura indispensável
nas caravanas de trabalhadores postais que vão a Brasília negociar com os
poderes algumas vantagens para essa classe. Numa audiência com o Ministro das
Comunicações, Valdo permaneceu caladão durante a tensão das negociações. Em
determinado momento, sentindo que a excitação elevava a temperatura no ambiente
a níveis máximos, soltou uma sonora gargalhada.
---
Posso saber de que o nobre amigo está rindo? – indagou o Ministro.
---
Nada não, eu tava me lembrando de um galo de briga que eu criei em Itabaiana,
minha terra natal, lá na Paraíba. O nome dele era Ferrolho, um galo notável!
Ficou cego numa briga com um galinho medíocre, tive que levar o bichinho pra
panela! --- contou Valdo.
Os
olhos do Ministro brilharam na hora. Contou que também era galista, criava e
preparava galos de briga na sua Bahia de todos os santos e todos os combates. Os
dois começaram a trocar impressões sobre a arte de botar esses bichos para se
confrontarem, para lazer dos criadores. Finalmente, a rinha em que estava se
transformando a audiência virou confraternização de irmãos.
Na
saída da reunião, um carteiro indagou de Enxuto:
---
Valdo, és mesmo criador de galo de briga? Sabia não! Pensava que teu esporte
era só o futebol.
--- Rapaz,
eu gosto de galo de briga não! Inventei aquilo porque fiquei sabendo antes que
o Ministro era chegado a uma briga de galináceos – responde Enxuto, do alto do
seu caradurismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário