Jacinto Moreno, eu e Marcos
Veloso gravando o Multimistura. Reparar na cara dupla de Veloso.
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Eu sou
um cara da cultura alternativa. O que vem a ser isso? Mais ou menos é o
elemento que produz arte num espaço marginal como as rádios comunitárias, os
fanzines do tempo do mimeógrafo ou o teatro amador de periferia. Brigo pelo
direito à liberdade de expressão, pelo humor e a valorização das coisas
simples. Subverter a lógica do mercado, não só nos conceitos estéticos. É assim
que eu me vejo e é nessa trincheira que me engajo, nessas utopias onde a gente
até sonha que está sendo levado pela torrente das tais forças progressistas,
como eternos ingênuos que sempre seremos.
Longa é
a arte e breve é a vida, diziam os gregos. Por que estou escrevendo isso? Por
nada. É que estou atrasado na atualização da Toca, e resolvi escrever essas
coisas, falar do nada e do tudo. “Quando nada acontece, há um milagre que não
estamos vendo”. Isso é do Guimarães Rosa, um sujeito definitivo na literatura
de todos os tempos no Brasil.
Se
estou desencantado? Tantinho assim. Cada ano que se passa, a gente vê o
deslocamento do foco de nossa luta. Não luto mais contra o poder burguês, mas
contra a força da gravidade que vai corroendo as cartilagens do meu joelho. E o
pior: com a velhice, vamos nos tornando autoritários, repressores mesmo. Ditar
leis e querer que todo mundo seja igual a nós, é uma tendência geral, com o passar
dos anos. Velhinhos intolerantes manejando suas bengalas por aí, esquecendo que
passou a vida toda querendo pleno direito para o ser humano, buscando uma
sensibilidade maior nas relações humanas.
Apesar
do poder coercitivo do sistema que sempre pretende controlar a galera, a gente
ainda acredita em propostas não oficiais de cultura, ocupando espaços onde der,
nesse corpo-a-corpo maluco feito minha mania de levar livros para espaços
públicos, na esperança de que as pessoas venham a ler. Atos isolados como
produzir programas de rádio web com equipamentos toscos e esquemas de
divulgação ridículos, quem sabe, para dar alguma chance de pautar temas de e
sobre as periferias silenciosas e invisíveis.
É este
o propósito do programa Multimistura que eu faço toda semana com Dalmo
Oliveira, Jacinto Moreno, Ivaldo Gomes, Beto Palhano e Marcos Veloso para a
Rádio Web Zumbi dos Palmares. A propósito, hoje, sábado, 19 de dezembro, vamos
produzir o último programa “Alô comunidade” na Rádio Tabajara da Paraíba AM, às
14 horas, e nesse programa de fim de ano rodaremos alguns trechos do
Multimistura.
Quem
quiser nos dar a honra de nos ouvir, estaremos neste link às 14 horas:
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