Personagens:
o bebinho, o defunto, o prefeito, o candidato a prefeito, o padre, a multidão
de babaquaras.
O
bebinho chega na hora da louvação do defunto. Na cabeceira do caixão, o
prefeito. Nos pés do defunto, o candidato a prefeito.
BEBINHO
– (Entrando e parando ao lado do caixão)
– O prefeito é um safado, cara de pau, malandro e enganador. Nunca foi com a
cara do falecido, tolerava à força, pra fazer média. Agora, ta aqui
choramingando.
PREFEITO
– O senhor está querendo me desmoralizar?
BEBINHO
– Desmoralizado o senhor já está, faz tempo. (Voltando-se para o candidato a prefeito) E o senhor, vivia falando
mal do falecido, que ele era um traidor, vendido e desleal. Agora, vem aqui
chorar suas mal disfarçadas lágrimas de crocodilo.
CANDIDATO
– (Partindo para nocautear o bebinho e
sendo contido pelos saca-trapos) Seu fela-da-puta, me respeite e respeite o
extinto!
MULTIDÃO
– (Murmura, zurra, uiva, assobia...)
PADRE
- Meus irmãos, respeitemos esse momento solene da entrega da alma desse
virtuoso irmão das almas.
BEBINHO
– E você, vigário vigarista que só gosta de dinheiro, todo mundo sabe que seu
deus é o vil metal, o numerário, os bens de capital.
PADRE
– Perdoai, Senhor, que ele não sabe o que diz!
BEBINHO
– (Olhando para o defunto) E você,
também não era flor que se cheire!
MULTIDÃO
– (Cai na gaitada gaiata, insultante das
exéquias).
BEBINHO
– E vocês, bando de hipócritas, sabem que 90% dos que estão aqui odiavam o
falecido. Diziam que era um chato, um farsante, um irritante puxa-saco dos
poderosos.
MULTIDÃO
– (Assobia, matraqueia, apupa, berra e
protesta)
No
meio da multidão, um quase bebinho, não de todo um retardado mental, pensa, mas
não recita a meditação: “Todo bêbado é um anjo de Deus, portador da verdade”.
(Babaquara: Que
é fácil de ser enganado, que comete besteiras que prejudicam a si mesmo e a
outras pessoas. Palerma. Tolo. Bestalhão. – Dicionário On Line)
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