Fim de festa da mocidade independente dos sem noção |
De Itabaiana do Norte, mandam me informar que já não
existe mais a bagaceira da festa. Pelo menos, não com aquele ar de boemia
saudável nas suas noites doentias de muita cachaça com caju, papos de antigamente
com velhos e bons biriteiros e seresteiros. A bagaceira é uma espécie de
relíquia das festas da Conceição que também foi ultrapassada, enodoada por
novos e maus hábitos. Nos antigamente, nossa cidadezinha era mais comedida,
singela e poética. Tínhamos mais estilo, se é que me entendem. Hoje, ninguém se
importa de ver as partes pudendas da mocinha, do prefeito ou da própria cidade,
desmanchada em seus prédios históricos por novos e ignorantes ricaços.
No lugar da bandinha tocando no coreto, botaram o
paredão com seu som bate estaca. Eu sendo Secretário da ONU, considerada esse
bate estaca como arma de destruição em massa de cérebros. A promotora proibiu a
detonação do som em massa nas massas alopradas. Tiraram o paredão, substituído
por um padre que pega pesado no quesito picaretagem espiritual. Aí foi que a
festa se derreteu mesmo. Nossa antiga bagaceira estremece no túmulo.
“Nenhum homem é uma ilha”. Eu era. Aliás, sou. Velhinho
de meia idade, pra mim o que era bom já era. Não vejo a hora de mandarem
suspender essa festa de rua como anti-higiênica e decadente, como já se trama
aqui na capital da Parahyba do Norte, para desgosto de Nossa Senhora das Neves.
Sem uma cachaça pra tomar coragem, quem há de enfrentar a realidade rivotril
que se abre aos nossos cansados e saudosos olhos? Uma cidade que perde até o
jeito de andar, de beber, de falar e de manter suas delicadezas urbanas, ainda
quer apagar a tocha olímpica com o extintor de incêndio da desfaçatez e
imbecilidade de meia dúzia de políticos chinfrins.
Festa de rua, todo mundo pode fazer. O problema está na receita: um
bocadinho mais de sensualidade discreta, uma pitada generosa de bom gosto e
respeito à cultura local, a volta sensacional do jornal “O Gafanhoto” de
Socorro Costa, o retorno triunfal das louras e das morenas no pavilhão central,
roupa nova e velhos boleros no parque, uma vasta dose de harmonia entre o novo
e o sagrado. A bagaceira era sagrada, até ficar sem Valdo Enxuto, José Maria
Almeida, Solon Almeida, Josué Oliveira e outros monstros sagrados da vetusta e inteligente
boemia itabaianense do Norte. Valdo ainda toma sua cachacinha, mas no terraço
de casa, relembrando a zoada do Parque São Jorge e suas eternas canções bregas
para as eternas namoradas.
Enfim, cada um com seus fins de festa.
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