domingo, 27 de setembro de 2015

POEMA DO DOMINGO


Desenho de Harrelson (Portugal)


O BEIJO DE DEUS

Se Deus acordasse agora,
não reconheceria suas criaturas.
Onde estão minha vida,
certidão de nascimento,
casamento ou perdição?
Não sei onde encontrar
a certidão de minha sanidade.

Minhas crenças jazem
no bojo de algum sanitário
num palácio onde a alvorada
não penetra.

Germinemos a terra, irmãos.
Façamos orgasmos breves,
e a terra voltará à cor azul
dos poetas.

Deus, em orgásticos prazeres,
gemeu de dor, satisfeito.
E, vendo que tudo se consumava,
adormeceu, sossegado.
E a terra era azul de novo.
E Deus falou pra si mesmo:
“Quão perfeitas são minhas obras”.
 Despreocupado, o Poder Supremo foi embora,
montado no dorso de um anjo.

Nos estertores de dor e gozo,
você me morde e lambe.
Sem saber, você me conduz
À presença de Deus,
que abençoava aquela brincadeira e,
despido de todos os paramentos,
enfatizava:
“Como são belas e prazerosas
as Minhas criaturas”.

Dôra Limeira

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