segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Joaquim Inojosa, o advogado dos pobres de Itabaiana

Como se dizia dos juízes em Berlim, ainda há historiadores na minha terra adotiva, Itabaiana do Norte. Para eles, como subsídio para futura reflexão sobre o passado da cidade, deixo aqui breve anotação a respeito de Joaquim Inojosa, que fez parte ativa no processo de formação e informação da geração de 1920/1930 em Itabaiana, como advogado e como jornalista.

Joaquim Inojosa de Andrade nasceu em 1901 no povoado de São Vicente Ferrer, em Pernambuco. Foi figura marcante na Revolução de 30, participando ativamente nos episódios da insurreição que começou com a morte do Presidente da Parahyba do Norte, João Pessoa. Ele se moveu nos cenários da sedição na Paraíba e em Pernambuco. No seu livro República de Princesa, conta detalhes dos fatos políticos ocorridos na Paraíba naquela época, culminando com a “República Independente de Princesa”, da qual ele foi idealizador. Redigiu, a pedido do Coronel Zé Pereira, o decreto que criava a República de Princesa, fato inédito no Brasil. Depois da constituição da República Independente de Princesa, Inojosa redigiu seu jornal oficial, o “Jornal de Princesa”, que era impresso clandestinamente numa tipografia do Recife.

A ligação desse destacado vulto da Revolução de 30 com Itabaiana é similar à minha própria história de vida, em alguns aspectos. Por motivos políticos, seus pais transferiram-se para Itabaiana na década de 20, trazendo o futuro revolucionário ainda nos cueiros. Meus pais também migraram de Pernambuco na década de 50. Aqui eu cresci, amadureci e aprendi a justapor as letras e artes com engajamento ideológico e redigi meu primeiro jornal. Findam aí as analogias.

Joaquim Inojosa cresceu em meio à fase de ouro da cultura itabaianense, quando a cidade era servida de jornais diários, cinema e círculos intelectuais de alto nível. Itabaiana era considerada a Atenas da Paraíba. Atenas, a cidade grega que foi, no passador remotíssimo, um poderoso centro artístico, estudantil e filosófico da antiguidade. Adolescente, o futuro insurreto entrou para o Lyceu Paraibano. Em 1919, foi fazer o curso de Direito no Recife. Um ano depois, o prefeito de Itabaiana nomeou-o advogado dos pobres, quando ainda acadêmico. Nessa condição, Joaquim Inojosa passou a defender os desvalidos da sorte que enfrentavam a Justiça. É notório que a Justiça até hoje trata pobres, negros e pessoas sem prestígio de forma parcial e iníqua. Imaginemos no começo do século XX como seria desigual esse tratamento. Foi nessa seara que Joaquim Inojosa aprendeu a quebrar lanças pela equanimidade. Ficou experiente nas batalhas jurídicas e virou Promotor no Recife quando colou grau, nomeado pelo Governador de Pernambuco, Sérgio Loreto.  


Em depoimento para o Núcleo de Documentação e Informação Histórica e Regional da UFPb, em 1980, Joaquim Inojosa confessou que continuou ligado a Itabaiana e colaborava com os jornais editados na cidade. A cultura itabaianense operou no jovem jornalista e advogado uma transformação e lhe deu visões de mundo novas e arrojadas. O autor de “A República de Princesa” foi participante ativo da Semana de Arte Moderna de 1922. Escreveu “O Movimento Modernista em Pernambuco”, “No pomar do vizinho”, entre outras obras. Antes de tudo, foi jornalista combativo pelos ideais que abraçava. 

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