Um dos maiores nomes da literatura de cordel, o poeta
cordelista Paulo Nunes Batista, que nasceu em João Pessoa em 1924, teve seus
textos poéticos traduzidos até para o japonês, com seu nome citado na Grande
Enciclopédia Delta Larousse. Foi ele o autor do folheto “As proezas de João
Grilo”, que inspirou Ariano Suassuna para escrever a peça “A Compadecida”.
São 90 anos de vida, mais de 130 folhetos de cordel
publicados e um total de 28 livros, entre contos e poemas Suas obras também
foram traduzidas para o inglês, espanhol, italiano, esperanto e braille.
A ho(n)ra p(ol)uída
O caso é este:
Já não se faz poente
como antigamente!
Um sol de néon se põe
sobre um horizonte de plástico.
Os humanos robôs assistem a esse
espetáculo
com seus olhos de vidro, suas mãos de metal.
Nesta ho(n)ra p(ol)uída, o que resta
da vida
após o Armageddon total?
Os pássaros de aço sobre
árvores de cimento armado
ainda tentam cantar.
O som apodreceu. O que era grito é
mármore,
e virou pedra o ar.
Parecem ainda nadar os peixes
fictícios,
todos de uma só cor.
Mas não restam senão duas duríssimas lágrimas
que um Deus qualquer chorou
sobre o altar dos derradeiros
Sacrifícios
no Ritual do Horror.
Quis falar, sem sucesso, uma boca
eletrônica.
Mas não havia mais
uma palavra só, após a DOR
atômica -
a não serem uis! e ais!...
E toda a Arte - dos antigos aos
modernos -
de que memória havia nos museus
- tudo subiu pros céus, na explosão
dos Infernos
ante os olhos atônitos de Deus!
E uma jovem sem cara exibiu o seu
sexo
numa palma de mão:
foi tudo o que sobrou, depois de
cem mil séculos
do Show de Armageddon.
Surdo-mudo, paralítico, asssexuado e
cego - após dar-se na próxima mente o
Grande Nó -
o último homem entregou sua alma
toda ao ego
e nunca se sentiu tão infinitamente.
Só.
Paulo Nunes
Batista
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