domingo, 13 de setembro de 2015

POEMA DO DOMINGO



 Um dos maiores nomes da literatura de cordel, o poeta cordelista Paulo Nunes Batista, que nasceu em João Pessoa em 1924, teve seus textos poéticos traduzidos até para o japonês, com seu nome citado na Grande Enciclopédia Delta Larousse. Foi ele o autor do folheto “As proezas de João Grilo”, que inspirou Ariano Suassuna para escrever a peça “A Compadecida”. 

São 90 anos de vida, mais de 130 folhetos de cordel publicados e um total de 28 livros, entre contos e poemas Suas obras também foram traduzidas para o inglês, espanhol, italiano, esperanto e braille.

A ho(n)ra  p(ol)uída


O caso é este:
Já não se faz poente
como antigamente!

Um sol de néon se põe
sobre um horizonte de plástico.

Os humanos robôs assistem a esse
espetáculo
com seus olhos de vidro, suas mãos de metal.
Nesta ho(n)ra p(ol)uída, o que resta
da vida
após o Armageddon total?

Os pássaros de aço sobre
árvores de cimento armado
ainda tentam cantar.
O som apodreceu. O que era grito é
mármore,
e virou pedra o ar.

Parecem ainda nadar os peixes
fictícios,
todos de uma só cor.
Mas não restam senão duas duríssimas lágrimas
que um Deus qualquer chorou
sobre o altar dos derradeiros
Sacrifícios
no Ritual do Horror.

Quis falar, sem sucesso, uma boca
eletrônica.
Mas não havia mais
uma palavra só, após a DOR
atômica -
a não serem uis! e ais!...

E toda a Arte - dos antigos aos
modernos -
de que memória havia nos museus
- tudo subiu pros céus, na explosão
dos Infernos
ante os olhos atônitos de Deus!

E uma jovem sem cara exibiu o seu
sexo
numa palma de mão:
foi tudo o que sobrou, depois de
cem mil séculos
do Show de Armageddon.

Surdo-mudo, paralítico, asssexuado e
cego - após dar-se na próxima mente o
Grande Nó -
o último homem entregou sua alma
toda ao ego
e nunca se sentiu tão infinitamente.
Só.

Paulo Nunes Batista

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