quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Azul feito pensamento de Portinari


“Ao meu cumpade Fábio Mozart, um disco azul feito pensamento de Portinari” – Abraço forte do Jessier Quirino.

Está escrito em algum lugar que o azul é medicamento de grande eficácia em casos de perturbações mentais, exaustação e esgotamento. Um dos facultativos que receitam o azul é o compadre Jessier Quirino, poeta conhecedor das bulas para curar males do mal humor em geral. 

Eu sou um admirador do azul, menos no pastoril, onde meu partido sempre foi o encarnado. O azul, entretanto, sempre fez parte da terapêutica, ao alcance de quem alcança as nuances dessa cor. O azul de ultramar, fiquei sabendo e meditando com cara de vácuo mental, foi reproduzida artificialmente pelo químico Guimet no século XIX. Esse azul fundamental, intenso e luminoso, era extraído originalmente do lapislázuli, uma pedra semipreciosa.

Azul de Portinari me remete ao primeiro espetáculo de teatro que vi na vida, em Timbaúba, no histórico Cine Teatro Recreio Benjamim. Era o monólogo “As mãos de Eurídice”, de Pedro Bloch, com o imenso ator Rodolfo Mayer. A história gira em torno de Gumercindo - Rodolfo - que foge com sua amante Eurídice e daí se desenrola a dramaticíssima trama. As mãos de Eurídice, propriamente, são citadas de passagem, entre os muitos outros atributos físicos da moça. A esposa do cara gostava de arte, era fã de Portinari. Mulher chata, pedante, vivia esnobando o pobre Gumercindo que não sacava nada de Portinari e seus azuis radiantes, assombrosos, celestiais, na análise da sua indigesta senhora. Acho que o compadre Jessier andou lendo a peça de Pedro Bloch e ficou sabendo da sublimidade do azul de Portinari, através da fala da mulher do Gumercindo.

Eu cultivo com razoável escala essa cor distinta, inclusive nos meus diálogos com o compadre Dedé Arnô, de Nova Russas, Ceará, sujeito também gostadorzinho da coloração celestial. No Facebook, diariamente, logo cedinho da madrugada eu inicio o papo com um bom dia ao Dedé, ou vice versa.

--- Compadre Fábio, bom dia. Como vai?

E eu tasco um azul que depende da estruturação mental do dia.

--- Amigo velho, tudo azul marinho.

Pode ser um azul índigo, celeste, anil, quando tudo se mostra limpo, desanuviado. Quando as coisas estão um pouco embaraçadas, vai um azul de metileno, que vem a ser um antídoto para pacientes com sintomas de mudanças mentais e falta de ar. Dependendo da disposição, encaro um azul carmim, azul piscina ou azul calcinha, que é a cor clássica dos fusquinhas.

Outro dia eu citei um “azul manteiga”.

--- Que azul é esse? ---- perguntou o cearense.

Respondi solícito:

--- Trata-se de uma cor de burro quando foge.

Não ficou explicado porque o burro muda de cor quando bota as patas no mundo, feito cearense que em todo lugar do planeta se encontra. Na verdade verdadeira, essa expressão correta é “corro de burro quando foge”. Sem dar atenção à cor do jumento, eu explico que o maior inimigo do azul é o encarnado, por isso que temos os dois partidos dessas cores se enfrentando nas lapinhas. Agora, a cor verde é própria dos néscios e apedeutas. Vide fardamento militar.




Um comentário:

  1. kkkkk muito bom poeta obrigado por citar meu nome,,
    é verdade ,sempre que iniciamos o bate papo pergunto se ta tudo azul ,,kkkk abraços

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