terça-feira, 15 de setembro de 2015

A poesia de Lau Siqueira


Domingo passado li o “Livro arbítrio”, de Lau Siqueira. Vale dizer que, quem lê poesia, entra em processo de decifrar enigmas, ler as mãos da cigana analfabeta e apreender o olhar ambíguo do artista em torno do tudo e do nada.

O livro de Lau é um pequeno reservatório de arrebatamento em curtos lances de poesia concisa.

coisa de novela
ela ligada na globo
eu ligado na dela

É um negócio que estabelece ligação efetiva e instantânea entre o leitor e essas sacações do cotidiano, da vida comum, transformadas em verso insólito na sua simplicidade.

algas marinhas
umas eram suas
ostras minhas

Lau Siqueira é mestre do jogo de palavras. Evoca Millôr Fernandes com seu humor inventivo e agudo. Paulo Leminski também está presente no “Livro arbítrio”. Pega a parafernália das coisas, afetos e emoções em redor e dentro de nós, transforma em singulares enunciados, como bom ilusionista da palavra.

Gostei muito do “Livro arbítrio”. Pelo formato, trata-se de livro para se ler na fila do banco ou no “trono”. Mas não ler superficialmente. É obra para se voltar às páginas quase decifradas, reler concepções do tipo:

rebeldia
não tem idade

aos vinte
joguei pedras na lua

aos cinquenta
desafio a lei
da gravidade

“Livro arbítrio” é arretado para se ensinar o que é poesia, do que se trata esse negócio e tirar do isolamento quem ainda não consegue perceber as múltiplas tonalidades e modulações de um verso.

LAU SIQUEIRA nasceu em 1957, em Jaguarão (RS), e reside há trinta anos em João Pessoa (PB). Publicou "O comício das veias" (1993), "O guardador de sorrisos" (1998), "Sem meias palavras" (2002), "Texto sentido" (2007).


“O fato de ser gaúcho e morar há 30 anos na Paraíba é um prazer adicional que a vida me deu. Tenho visto minha poesia acolhida nas antologias de poesia contemporânea do Rio Grande do Sul. Recentemente pude ver também minha poesia exposta no Museu da Língua Portuguesa, representando a Paraíba. A bem da verdade, todo poeta, todo artista é cidadão do mundo. É uma partilha com o infinito”. (Lau Siqueira)

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