Domingo passado li o “Livro arbítrio”, de Lau Siqueira. Vale dizer que,
quem lê poesia, entra em processo de decifrar enigmas, ler as mãos da cigana
analfabeta e apreender o olhar ambíguo do artista em torno do tudo e do nada.
O livro de Lau é um pequeno reservatório de arrebatamento em curtos
lances de poesia concisa.
coisa de novela
ela ligada na globo
eu ligado na dela
É um negócio que estabelece ligação efetiva e instantânea entre o leitor
e essas sacações do cotidiano, da vida comum, transformadas em verso insólito
na sua simplicidade.
algas marinhas
umas eram suas
ostras minhas
Lau Siqueira é mestre do jogo de palavras. Evoca Millôr Fernandes com seu
humor inventivo e agudo. Paulo Leminski também está presente no “Livro
arbítrio”. Pega a parafernália das coisas, afetos e emoções em redor e dentro
de nós, transforma em singulares enunciados, como bom ilusionista da palavra.
Gostei muito do “Livro arbítrio”. Pelo formato, trata-se de livro para se
ler na fila do banco ou no “trono”. Mas não ler superficialmente. É obra para
se voltar às páginas quase decifradas, reler concepções do tipo:
rebeldia
não tem idade
aos vinte
joguei pedras na lua
aos cinquenta
desafio a lei
da gravidade
“Livro arbítrio” é arretado para se ensinar o que é poesia, do que se
trata esse negócio e tirar do isolamento quem ainda não consegue perceber as
múltiplas tonalidades e modulações de um verso.
LAU
SIQUEIRA nasceu em 1957, em Jaguarão (RS), e reside há trinta anos em João
Pessoa (PB). Publicou "O comício das veias" (1993), "O guardador
de sorrisos" (1998), "Sem meias palavras" (2002), "Texto
sentido" (2007).
“O
fato de ser gaúcho e morar há 30 anos na Paraíba é um prazer adicional que a
vida me deu. Tenho visto minha poesia acolhida nas antologias de poesia contemporânea
do Rio Grande do Sul. Recentemente pude ver também minha poesia exposta no
Museu da Língua Portuguesa, representando a Paraíba. A bem da verdade, todo
poeta, todo artista é cidadão do mundo. É uma partilha com o infinito”. (Lau
Siqueira)
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