terça-feira, 2 de agosto de 2011

Por que não acontece nada por aqui?

Jovens praticam balé no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar

“Nesta cidade não acontece nada”, reclama, desolado, um rapaz morador na cidade de Itabaiana, 90 quilômetros da capital João Pessoa, 26 mil habitantes, isolada por péssimas estradas e governantes idem. Fui jovem nesta cidade quando o mundo era analógico e a realidade não era digital. Sem ser saudosista, vejo que o mundo mudou de forma impactante nas últimas décadas, mas a rapaziada está cada vez mais sem orientação. A nova geração que se comunica em redes esqueceu de armar a rede da vivência gostosa, daqueles modos de vida do interior. Olhando com os olhos de ontem, vejo que a rapaziada não faz acontecer.

No meu tempo não se tinha à mão as novas tecnologias da comunicação, mas a moçada era menos apática. Nem sei se naqueles tempos bons existia depressão, síndrome do pânico e outros males modernos. Motivos havia: o medo era “nosso pai e nosso companheiro”, como no poema de Drumond. Também não tenho certeza de que a ausência da massa de informações que se tem hoje, do tipo midiático global, capitalista, ajudava os meninos e meninas da era 70/80 a encontrar sua vocação de cidadãos, mexendo com arte e cultura ao mesmo tempo em que guerreava no front político.

Hoje não acontece nada na cidade e quase ninguém agita a vida social. Tirando os eventos elitizados e restritos como os blocos de cordão de isolamento e as festinhas à base de “paredão” e música infame, as novas gerações e atores sociais ocupam menos o espaço público, ou seja, só se juntam para beber no meio da rua, um bando de gente que tem pouquíssimas opções de lazer. Esse povo são os sem-futuro, por vezes até sem-presente.

A experiência no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar me deu a certeza de que o público tem medo de consumir produtos culturais. Elitizaram tanto os eventos que o cidadão comum só se sente bem no meio da multidão que levanta as mãozinhas no ritmo do forró de má fama e suas letras abjetas. Não temos casas de cultura, e os poucos acontecimentos artísticos são blindados ao público. O jovem da periferia se sente excluído nesses ambientes. Fica bem marcada a hierarquização da sociedade. Não há o prazer do entretenimento, as pessoas têm medo de serem diminuídas. Os jovens, portanto, ficam submetidos ao que está na grande mídia de massa com tudo o que isso representa de maléfico para a formação do cidadão.

O Ponto de Cultura sempre pretendeu ser uma casa que abriga a cultura geral. Não queremos levar cultura à população, restrito a eventos. O povo tem sua cultura, não precisa levar o que já existe, nesse movimento unilateral que sempre caracterizou as raras políticas públicas de cultura neste país. Temos que buscar ampliar o olhar da população através de eventos culturais consumidos pela minoria privilegiada, mas não se pode parar por aí. O básico é que a moçada tenha oportunidade de se expressar artisticamente. Essa é a maravilhosa lógica do Programa Cultura Viva, do Governo Federal: ao invés de chegar com o pacote pronto, incentivar e colocar algum recurso nos movimentos culturais já existentes nas cidadezinhas e periferias, levando em conta as características de cada comunidade.

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