segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

CONTOS FESCENINOS


Clube das mulheres cafajestes

Mulher cafajeste é como uma nota de cem reais. Todo mundo sabe que existe, mas pouca gente viu uma de perto. Mulheres cafajestes e homens acornalhados existem e de vez em quando se juntam para debater seus problemas de cama e chifre. Outro dia, no bar do Vatapá de Gala, Madame Preciosa, seu corno de estimação Sonsinho e uma dona por nome Maria Anunciada e Proclamada Jacinto Leite no Rego e Silva batiam animado papo sobre essas coisas de traição, sexo, poder e influência dos astros no amor.

Madame Preciosa, com sua eloquência em assuntos de psicologia sexual, defensora de todo e qualquer processo erotosocializante, afirmou que é uma mulher assumidamente “cafajeste”. O culto ao tipo “cafajeste” é mais normal do que aparenta até entre as mulheres. No caso da Madame, ela disse que assume esse papel mais como uma espécie de vingança sexista. Adora exibir seu parceiro Sonsinho, um ser desgarrado daquele tradicional modelo patriarcal.

O corno manso Sonsinho garante que jamais trairá sua companheira, seja ela quem for. “Quando um homem trai uma mulher, perde 90% do seu caráter. Só não perde outros 10% restantes porque não existe homem 100%”, esclarece ele com essa estranha porcentagem. Para ele, o homem é o único animal que sempre quer mais do que precisa. “Pra que procurar outra mulher se tenho em Madame Preciosa tudo o que um homem deseja?”, diz o cabrão, olhando embevecido para sua patroa.

Dona Proclamada desenvolve a teoria de que existem duas classes de mulheres: as que têm origem no judaísmo-cristianismo e as descendentes de outra mitologia, a grega. A estirpe judaica-cristã são as filhas de Eva. Como se sabe, Eva foi feita da costela do velho Adão e programada para ser subserviente ao homem. Ao mesmo tempo em que aparentam pessoas sacrificadas aos interesses dos homens, essas mulheres instigam-os para o mal e o pecado e depois acompanham sadicamente sua queda e aniquilamento. As mulheres gregas foram criadas a partir do cérebro de Zeus. Vindas da cabeça de um deus, são independentes, plenas e completas. Madame Preciosa seria uma mulher oriunda da cabeça dessa personificação masculina superior aos homens.

Dona Proclamada anda meio descompensada depois que deu com o pé na bunda de um namorado cafajeste. “Ele comeu Madame Preciosa sem combinar comigo”, confidenciou chorosa ao domesticado Sonsinho. Proclamada está em fase de abstinência total de sexo. Não aceitou o convite de Preciosa para um ménage à trois, tendo Sonsinho como o outro vértice do triângulo, variação praticada pelas melhores famílias. Anda lendo livro de uma tal Rozane Monteiro, que ensina: “Se o Dalai Lama e o Padre Marcelo podem viver sem sexo, eu também posso. Um vive rindo, outro vive cantando, não há de ser tão ruim.”

“O amor não tem nada de promíscuo”, garante Madame Preciosa, uma mulher que se entrega sexualmente com facilidade, tendo Sonsinho como cúmplice ou não. Gosta de citar soneto da poeta portuguesa Florbela Espanca:

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais este e aquele, o outro e toda a gente
Amar!Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada,
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar.

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