O grande poeta português Fernando Pessoa acreditava que, por mais
que o homem saiba, sempre tem alguma coisa para aprender com as pessoas, não
importa se essas pessoas são cultas ou ignorantes. “É regra da vida que
podemos, e devemos, aprender com toda a gente. Há coisas da seriedade da vida
que podemos aprender com charlatães e bandidos, há filosofias que nos ministram
os estúpidos, há lições de firmeza e de lei que nos vêem no acaso. Tudo está em
tudo”, resumiu o imortal Pessoa.
O historiador Peter Burke diz que “a história das pessoas comuns e sua relação intrínseca com a estrutura social é muito importante; a história dos mais esquecidos, dos marginalizados pela história oficial é essencial para a compreensão dos fatos, pois a história deve ser vista de baixo. Isso abre a possibilidade de uma síntese mais rica da compreensão histórica através da experiência cotidiana das pessoas”. Essa é a ideia de um livro sobre a cidade de Mari, falando da história da cidade a partir de depoimentos e perfis das pessoas simples, algumas de excepcional capacidade criativa, homens e mulheres do povo citados na dinâmica do coletivo, na construção de uma identidade mariense.
Compadre Castor, meu assessor para assuntos de botequim, é quem resume essa tese: “lugar de filosofar é em casa de rapariga”. Meu livro não tem orelhas, que ele não usa óculos, dispensando, portanto, este acessório anatômico, mas conta com apresentação do ilustre professor Josa. No livreto desfilam os imortais Chapéu do Correio, Caveirinha, Manoel do Bar, Nelson do Bar, Biu da Pedra, poeta Zé Hermínio, a cafetina Maria Pintada, o cantor brega Heleno Boca de Rosa, o locutor Assis Firmino e tantas outras figuras de proa da história não oficial de Mari.
O livrinho recebeu o nome de “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, dedicado aos amigos que fiz quando morei por lá, chegando naquela cidade em 1988, ocasião em que o Município comemorou 30 anos de emancipação política. Fiz então um esboço incompleto da história mariense para ser teatralizado, o que realmente foi realizado com o Coletivo Dramático de Mari, conjunto cênico que fundei na ocasião. A direção ficou a cargo do competente Carlos Cartaxo. Foi nosso primeiro trabalho teatral na terra de Adauto Paiva, de quem ouvi falar com as melhores referências pelo seu caráter e espírito de doação à causa do folclore e da cultura em geral, como um intelectual sensível que foi.
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