quarta-feira, 12 de março de 2014

Tortura a bordo


Viajar em taxi lotação tem suas vantagens e desvantagens, como tudo o mais. É mais rápido, deixa na porta de casa e você fica sabendo das últimas fofocas. Desvantagens: pegar o lugar do meio no banco traseiro e ter que ouvir a música ordinária que o motorista bota no som do carro. Na qualidade de alternativos, esses motoristas não ligam muito também para a higiene pessoal e a aparência. A maioria trabalha de bermuda, barba por fazer, chinelas havaianas e desodorante vencido. O ruim mesmo é ter que aturar o gosto musical desse povo. De vez em quando, o distinto passageiro se vê no meio de uma perseguição cinematográfica envolvendo o carro lotação e a Polícia Rodoviária. É que alguns lotações aproveitam o fato de serem clandestinos e trafegam sem documentação ou com excesso de passageiros. Emoção pura!

Mas a pior parte é mesmo o som ambiente. Até tolero as paradinhas nos postos para botar gás automotivo, os desvios de rota para fugir da fiscalização. O diabo é o som bem alto tocando o CD de Calcinha Preta e outros cocôs. Parece que fazem de maldade mesmo, mas não é. Querem agradar o cliente. No meu caso, enche o saco. Pior é que fico constrangido de mandar parar a tortura. O carro é dele, o som também, e não me vejo utilizando um serviço público. No máximo, seria um carona pagante. Vez em quando peço pra diminuir o som, alegando dor de cabeça. Fico com a impressão de que os demais passageiros me vêm como um criador de caso.

Ontem, embarquei no ônibus da Jonas Turismo que ganhou a concessão da linha João Pessoa/Itabaiana. Carro novo, confortável. Para distrair, alguns monitores rodando música sertaneja, forró bundinha e outras “pérolas”. Essa praga está por tudo quanto é lado. Fiquei temendo a hora de botarem funk pra completar. Ainda se reclama porque o sujeito usa seu carro particular. O transporte público é uma lástima. Só fui de ônibus porque meu carro velho está quebrado. Voltei de alternativo. Pelo menos tenho o direito de mandar diminuir o som e não sou obrigado a ficar vendo caras, bocas e bundas de cantores medíocres.

Dentro daquele ônibus, forçado a ouvir e ver o lixo musical da Viação Jonas Turismo, lembrei do meu compadre Geraldo Caranguejo: “Entre o inferno e o purgatório, prefiro o inferno que no purgatório você fica o tempo todo ouvindo choro de criancinhas pagãs. Tem coisa mais chata?”

Pior que tem: ouvir repertório de empresa de ônibus vagabunda, sem o mínimo de civilidade.

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