Pesquei esta velha foto do Machinho no Facebook, remetendo a esta crônica que publiquei em 2009.
O inimigo de Roberto Carlos
Estive em Itabaiana no dia 8 de dezembro, data da nossa Padroeira,
quando soube do falecimento de Machinho. O ruim de quem anda na idade da
“descida” é esse lance de temer perguntar pelas pessoas da nossa geração quando
visitamos a terrinha. Geralmente tem sempre um amigo ou conhecido que faleceu.
Morreu um sujeito amante da vida, espirituoso, desportista e carnavalesco da velha Itabaiana. José Tavares, o Machinho, foi jogador do Vila Nova Futebol Clube e fundador do famoso bloco carnavalesco “Nó Cego”. Nos últimos anos virou capitalista e abriu uma casa lotérica.
Sobre Machinho, recorro mais uma vez ao livro do Dr. Vilinho, chamado “Por um ocaso azul”. Nesse belo livro de crônicas, Vilinho relembra fatos e personagens de Itabaiana dos tempos idos. Numa das crônicas, ele descreve o bloco carnavalesco “Nó Cego”, fundado por Brão, Rivelino, João de Lula Félix, Luiz Paraíba, Dr. Dedé e o próprio Machinho, entre outros foliões. Para eles, “o Nó Cego era um estado de espírito”. Na frente, seguia orgulhoso o Pedão, fantasiado de sultão das Arábias, puxando um carro-de-mão com jarras cheias de batida de limão, na proporção de uma por cada ano de existência da popular agremiação carnavalesca. Ainda hoje o “Nó Cego” desfila no carnaval de Itabaiana, já contaminado pela praga do “axé Bahia” e esses modismos comerciais todos, que desvirtuam o carnaval autêntico.
Pois Vilinho fala de um desses carnavais do “Nó Cego”, informando uma das características de Machinho, que era a sinceridade de suas atitudes e o ódio que nutria pelo cantor Roberto Carlos e suas músicas. No bloco, o papel de Machinho era carregar o saco com o tira-gosto: farofa, galinha assada, pombo, pato, rolinha, tripa de porco e outros quitutes. Foi então que a orquestra, comandada por Marreta, tocador de trombone, começou a tocar a música “Um milhão de amigos”, grande sucesso do “Rei” naquele ano. Machinho ficou revoltado e reclamou:
- Dr. Dedé, peça pra não tocar mais essa porcaria, senão eu deixo a merda desse bloco agora mesmo!
Quando o bloco chegou em frente à Igreja, o maestro esqueceu de que não podia tocar música de Roberto Carlos e atacou de novo a introdução da canção do “Rei”. Machinho parou, derramou o tira-gosto no calçamento e passou a pisar os pedaços de carne. Quando Dr. Dedé passou por ele, Machinho gritou:
- Compadre Dedé, isso é bloco pra corno!
E ficou na calçada olhando o bloco passar. Nunca mais Machinho participou do “Nó Cego”, por causa de Roberto Carlos.
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