quinta-feira, 6 de março de 2014

O boom do boi


Meu compadre Ameba fez uma participação especial no carnaval da cidade Itabaiana do Norte, aquela da belíssima igreja matriz e do pessoal ultra matreiro que zomba dos outros com seus números superfaturados nos conchavos dos órgãos legislativos. Aproveitou para fazer um balanço do carnaval na terra de Zé Especial, o maior mestre de boi-bumbá que a Paraíba criou-lo, como cantaria outro mestre popular, o poeta Zé Limeira.

Ameba é um mestre da língua solta e dos maus sentimentos em relação ao mundo que o cerca. Pra ele ta tudo errado, todo mundo é safado e acabou-se. Pois esse elemento passeou pelas ruas de Itabaiana, e andando pela dita suja, fez seu relatório onde consta que a poluição sonora tomou conta do pedaço. Respeito à boa convivência passa longe.
Olhando em volta, Ameba também notou que o velho carnaval popular, aquele que só precisava de uma lata como percussão e dois ou três foliões de cara suja, esse praticamente não existe mais. Quem tem grana para investir num abadá, pode andar atrás do caminhão do bloco mercantil. Quem não pode, vai atrás do “paredão”. Entre um e outro, as troças que ainda resistem, espremidas no meio da desorganização geral.

Um detalhe positivo escapou do relatório carnavalesco de Ameba: o boom do boi. O que é um boom? Algo que surge como a explosão de uma bomba e é impossível de ser contido, pois chega sem aviso prévio. No caso, o boi de carnaval em Itabaiana sempre esteve lá, faz parte da festa como Coca Cola em aniversário infantil. Só que, neste ano santo de 2014, o boi está super valorizado. E bastante explosivo. Tem o Boi Mister Bomba, o Boi Mister Bombinha e tantos outros bois. Até festival de boi aconteceu, promovido pelo Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. O boi deixou de ser brincadeira de pé rapado, troça de favelado. Agora atinge status de classe média pra cima, tem até boi de elite, sofisticado, cheio de rififi, plumas e paetês.

--- Imagine você que flagrei um boi almofadinha, todo chique, no tom rosa choque, uma gracinha...- informa o tal de Ameba.

O boi em questão, da raça Nerole suspeito, desfilou na quarta-feira de cinzas. “O mundo nunca mais será o mesmo”, acredita o velho Ameba, assombrado com o “gay power” assumindo o terreiro. Resumindo: este foi o carnaval do boi de carnaval. O velho boi deixou de ser passivo e assume seu papel na revitalização da riqueza e diversidade da grande festa, apesar das barreiras e “paredões”. Isso fica, entretanto, por conta dos excessos e transgressões permitidas nessa expressão coletiva de alegria que é tão nossa.

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