Meu compadre Ameba
fez uma participação especial no carnaval da cidade Itabaiana do Norte, aquela
da belíssima igreja matriz e do pessoal ultra matreiro que zomba dos outros com
seus números superfaturados nos conchavos dos órgãos legislativos. Aproveitou para
fazer um balanço do carnaval na terra de Zé Especial, o maior mestre de
boi-bumbá que a Paraíba criou-lo, como cantaria outro mestre popular, o poeta
Zé Limeira.
Ameba é um mestre da
língua solta e dos maus sentimentos em relação ao mundo que o cerca. Pra ele ta
tudo errado, todo mundo é safado e acabou-se. Pois esse elemento passeou pelas
ruas de Itabaiana, e andando pela dita suja, fez seu relatório onde consta que
a poluição sonora tomou conta do pedaço. Respeito à boa convivência passa
longe.
Olhando em volta,
Ameba também notou que o velho carnaval popular, aquele que só precisava de uma
lata como percussão e dois ou três foliões de cara suja, esse praticamente não
existe mais. Quem tem grana para investir num abadá, pode andar atrás do
caminhão do bloco mercantil. Quem não pode, vai atrás do “paredão”. Entre um e
outro, as troças que ainda resistem, espremidas no meio da desorganização
geral.
Um detalhe positivo
escapou do relatório carnavalesco de Ameba: o boom do boi. O que é um boom?
Algo que surge como a explosão de uma bomba e é impossível de ser contido, pois
chega sem aviso prévio. No caso, o boi de carnaval em Itabaiana sempre esteve
lá, faz parte da festa como Coca Cola em aniversário infantil. Só que, neste
ano santo de 2014, o boi está super valorizado. E bastante explosivo. Tem o Boi
Mister Bomba, o Boi Mister Bombinha e tantos outros bois. Até festival de boi
aconteceu, promovido pelo Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. O boi deixou de
ser brincadeira de pé rapado, troça de favelado. Agora atinge status de classe
média pra cima, tem até boi de elite, sofisticado, cheio de rififi, plumas e
paetês.
--- Imagine você que
flagrei um boi almofadinha, todo chique, no tom rosa choque, uma gracinha...-
informa o tal de Ameba.
O boi em questão, da
raça Nerole suspeito, desfilou na quarta-feira de cinzas. “O mundo nunca mais
será o mesmo”, acredita o velho Ameba, assombrado com o “gay power” assumindo o
terreiro. Resumindo: este foi o carnaval do boi de carnaval. O velho boi deixou
de ser passivo e assume seu papel na revitalização da riqueza e diversidade da
grande festa, apesar das barreiras e “paredões”. Isso fica, entretanto, por
conta dos excessos e transgressões permitidas nessa expressão coletiva de
alegria que é tão nossa.
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