Alguns homens acreditam em Deus ou deuses, outros não. Tem um
princípio na Constituição que se chama laicidade, fundamental para a liberdade
espiritual e igualdade. A separação do Estado e de qualquer igreja não
significa luta contra a religião, mas sim, simplesmente, vocação para a
universalidade. O ateu, o cristão, o judeu, o espírita, o budista, o praticante
das religiões de raiz africana, são todos cidadãos iguais em direitos e
deveres. O Estado, portanto, não deve assumir ou beneficiar essa ou aquela
religião.
Isso para dizer que estive no Hospital Municipal Santa Isabel de
João Pessoa onde, começando do nome do nosocômio, tudo lembra a religião
católica. Nos corredores e alas, tudo tem nome de santo, cheirando a
clericalismo. Parece corredor de mosteiro.
Religião divide e a humanidade é uma. As crenças espirituais é que
separam. Laicidade, portanto, é um princípio de fraternidade.
Outro detalhe naquele hospital que, no meu ver, fere o princípio
da impessoalidade. Cada parede que se levanta ali tem uma placa enorme, vistosa
e brilhante, com nomes do prefeito, do diretor do Hospital, do secretário e até
de quem não tem nada com a área de saúde, como é o caso da ex-secretária de
planejamento da Prefeitura, Estelizabel Bezerra, cujo nome está em algumas
placas. "A publicidade dos atos, programas, obras,
serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos
ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores
públicos" (art. 37, §1.º). Esse artigo da Constituição foi ignorado pelo
ex-prefeito Luciano Agra. Pelo visto, o atual, Luciano Cartaxo, também faz
vista grossa.
Sobre a neve que vai cair em João Pessoa na
noite de Natal, por força da vontade do prefeito Cartaxo, se eu acho brega?
Ridículo? Sei não. Só acho que isso mostra nitidamente a maneira de ver o mundo
entre uma equipe que saiu e a outra que entrou. Antes, os projetos de festas
populares levavam para um lado mais de defesa de nossas raízes culturais tão desprezadas.
Agora, os donos do poder momentâneo querem a gente com cara de Europa, como no
Brasil colonial.
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