quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Minha mãezinha que já ta com oitentinha

Dona Iraci abre seu presente de aniversário
Quando eu tinha mais ou menos um mês de vida, em Timbaúba, minha mãe quase que se converte ao catolicismo, contra a sua fé protestante. Porque o Frei Damião foi fazer uma missão na cidade, conclamando aos católicos para não querer conversa com os “nova seitas”, como eram chamados os crentes naqueles tempos de intolerância. “Quem vender qualquer coisa a um nova seita, vai pro inferno”, gritava o frei fundamentalista em suas prédicas. Para meu azar, o leiteiro era devoto do frei e deixou de vender o leite da minha papa. Numa época em que não existia o leite enlatado, foi preciso meu pai dar parte ao delegado que, por sua vez, forçou o amedrontado leiteiro a fornecer o produto, senão este leão teria morrido de fome.
O caso vem-me à lembrança a propósito da data de hoje, 27 de dezembro, dia do aniversário da senhora Iraci, minha mãe. Não pela sofrida circunstância do fato de uma mãe se ver numa enrascada dessas, mas para registrar que essa senhora foi bem sucedida em sua missão de genitora. Cumpriu seu papel com dignidade, honradez e uma certa dose de heroísmo, condignamente assessorada pelo esposo, seu Arnaud.

Ela continua evangélica. Temos motivos suficientes para lhe votar uma admiração especial. Nessa quadra da vida, acrescentei mais um: seu devotamento ao marido doente, dia e noite, amenizando o forçado repouso do guerreiro. Dona Siduca, como a chama o companheiro, flutua em torno do mestre Arnaud, o passo leve de quem conhece os caminhos do afeto mais verdadeiro, mesmo com a osteoporose atrapalhando um pouco.   

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