Dona Iraci abre seu presente de
aniversário
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Quando eu
tinha mais ou menos um mês de vida, em Timbaúba, minha mãe quase que se converte
ao catolicismo, contra a sua fé protestante. Porque o Frei Damião foi fazer uma
missão na cidade, conclamando aos católicos para não querer conversa com os
“nova seitas”, como eram chamados os crentes naqueles tempos de intolerância. “Quem vender
qualquer coisa a um nova seita, vai pro inferno”, gritava o frei
fundamentalista em suas prédicas. Para meu azar, o leiteiro era devoto do frei
e deixou de vender o leite da minha papa. Numa época em que não existia o leite
enlatado, foi preciso meu pai dar parte ao delegado que, por sua vez, forçou o
amedrontado leiteiro a fornecer o produto, senão este leão teria morrido de
fome.
O caso
vem-me à lembrança a propósito da data de hoje, 27 de dezembro, dia do
aniversário da senhora Iraci, minha mãe. Não pela sofrida circunstância do fato
de uma mãe se ver numa enrascada dessas, mas para registrar que essa senhora
foi bem sucedida em sua missão de genitora. Cumpriu seu papel com dignidade,
honradez e uma certa dose de heroísmo, condignamente assessorada pelo esposo,
seu Arnaud.
Ela continua
evangélica. Temos motivos suficientes para lhe votar uma admiração especial.
Nessa quadra da vida, acrescentei mais um: seu devotamento ao marido doente,
dia e noite, amenizando o forçado repouso do guerreiro. Dona Siduca, como a
chama o companheiro, flutua em torno do mestre Arnaud, o passo leve de quem
conhece os caminhos do afeto mais verdadeiro, mesmo com a osteoporose
atrapalhando um pouco.
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