“Guerra é
esforço, é inquietude, é ânsia, é transporte...
É a dramatização
sangrenta e dura
Da avidez com que
o espírito procura
Ser perfeito, ser
máximo, ser forte!”
Augusto dos Anjos
Neste ano que acaba, fiz umas cagadas, mas é culpa do meu signo. Na
retrospectiva, fiquei mais pobre, engordei, perdi mobilidade, coloquei, como
todo mundo, aliás, meus talentos a serviço de minhas vaidades bobas, construí
fantasias na intenção de melhorar a vida, minha e dos outros, e me mantive
inflexível na atitude de não querer mudar nadinha dos meus maus hábitos.
Pronto, essa é a minha retrospectiva do ano.
Mantive meu interesse na criatividade, sinal de que ainda tenho vida.
Limitada, mas ainda dentro do processo criativo, o que me dá certa margem de
segurança para viver 2014 a continuidade de minha história de progresso e
desenvolvimento de ideias mais ou menos fantasiosas, navegando nos elementos
essenciais do sonho. Sem isso, não tem como encarar a transitoriedade de la
vida, não é mesmo?
Em 2014, terei três atribuições essenciais: publicar um livro sobre
artistas da minha cidade, ajudar a definir e estruturar um grupo de música
regional chamado “Ganzá de Ouro” e treinar para me manter apaziguado, sem
querer brigar com ninguém, calmo e pacífico, sem contenda nem gritos de guerra.
Acabou minha fase de guerreiro. Assinei armistício com os que considerava
sacripantas, mentirosos, traidores, corruptos, reacionários e farsantes. O leão
vai viver em paz os dias que lhe restam. O jornalista combativo, o cara que
travava lutas nos palcos e nas ruas, o polêmico abandona a contenda. Resolvi
que quero ficar na quietude das minhas pequenas ações pessoais, sem rufar os
tambores diante da insensatez política e da canalhice geral e varejista. Sem,
entretanto, sufocar dentro de mim o “acérrimo asco que os canalhas do mundo me
provocam”. (Augusto dos Anjos, “As cismas do destino”).
Voltei a ler Augusto dos Anjos e essa contemplação da arte do mestre vai
ter continuidade em 2014. Arte é o que dá sentido à vida. Não é só de burrice e
vaidade que se faz uma existência. E ser leal à nossa comunidade, aos bens
culturais que fazem parte da história de cada um. E importante: fugir da
tentação de convencer a si e aos outros a endossar sua auto-imagem.
“O homem grande” vai continuar oprimindo “o homem pequeno”. O instinto
de procriar vai seguir sua ânsia legítima. Os psicopatas vão estar nos seus
postos. Enfim, a vida vai seguir seu curso, enquanto a morte vai metendo a mão
em nossas glândulas, pouco a pouco, enquanto planejamos nosso destino incerto.
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