Israel na tribuna da Câmara |
Na reunião de criação de uma entidade de novos
escritores, apareceu o professor Israel Elídio de Carvalho Filho, itabaianense
de 74 anos, antigo ativista político de esquerda, perseguido pelo regime
militar.
Pedro Fazendeiro |
No final da solenidade, Israelzinho pediu a palavra no
meio da platéia. Subiu na tribuna da Câmara dos Vereadores e foi como se
juntassem os talibãs, os guerrilheiros da Faixa de Gaza e Bin Laden cover numa
assembléia de pacatos e cordeiros seguidores de religião pentecostal. O
professor soltou o verbo contra os vereadores que não fizeram nada para impedir
a destruição do patrimônio histórico da cidade. Lamentou que Itabaiana não
lembre de seus heróis. Como exemplo de nome digno das maiores homenagens, citou
Pedro Fazendeiro, nascido em Itabaiana. Para evitar mal estar maior, o
presidente da mesa interrompeu a fala do carbonário professor.
Falta boa educação na minha terra, por isso ninguém
conhece sua história. Eu próprio não sabia que Pedro Fazendeiro era conterrâneo
de Abelardo Jurema e Hugo Saraiva, outras duas vítimas famosas do golpe militar
de 1964. Pela educação, o povo torna-se apto a sentir a importância de
preservar a memória dos grandes homens e dos fatos históricos. Esse o autêntico
culto cívico, preservando a luz da consciência coletiva. A atual geração tem
recebido auto-sugestão de sua decadência, e aí, meu senhor, a autoestima vai
para o ralo.
Fui estudar a história de Pedro Fazendeiro, encontrei
trabalho interessante de Janicleide Martins de Morais Alves, graduada em
História pela UFPB. Um trecho da monografia:
“Pedro Inácio de Araújo nasceu na cidade de Itabaiana,
Paraíba, no dia 08 de junho de 1909, filho dos agricultores Pedro Antônio Felix
e Ana Maria da Conceição. Casou com Maria Júlia de Araújo com quem teve cinco
filhos. Após sair do quartel, comprou fazendas (tecidos) e passou a vender,
recebendo, assim, o nome de Pedro Fazendeiro. Vendendo tecidos conheceu e se instalou
como posseiro em Miriri, região que ficava entre Mamanguape e Sapé e que
pertencia a Pedro Ramos Coutinho, irmão de Renato Ribeiro Coutinho, um dos
maiores usineiros do Grupo da Várzea. Na medida em que andava a pé, vendendo
tecidos em praticamente toda a Várzea do Paraíba, Pedro estabelecia amizades,
adquirindo um grande conhecimento geográfico da área.
As reivindicações e conquistas do campesinato do
Engenho Galiléia/PE chegavam à
Paraíba incentivando os camponeses deste estado a
também lutar por seus direitos. Pedro havia conhecido os ideais socialistas
através do irmão mais velho e, indignado com a situação de abandono no campo,
almejava uma transformação na condição de vida dos agricultores. Então, o ano
era 1955, quando realizou ao lado de João Alfredo Dias (Nêgo Fuba), o primeiro
encontro dos camponeses de Sapé na casa de João Pedro Teixeira. Posteriormente,
assumiu o cargo de 2º Secretário na primeira Diretoria da Liga Camponesa de
Sapé, consolidando sua permanência na mesma. A partir daí, se entregou com
paixão ao movimento e às campanhas de massa. O fato de conhecer bem a geografia
da região facilitou o seu apoio na formação de várias Ligas Camponesas no estado
da Paraíba. Sua sabedoria e jeito terno de ser, convencia os mais rudes camponeses
a aderirem ao movimento. Expedito Maurício da Costa enfatiza a astúcia de Pedro
Fazendeiro, destacando que, para entrar nos canaviais dos usineiros, o líder
carregava um tabuleirinho de cocada para vender aos cortadores de cana e
divulgar o movimento camponês.”
Pedro Fazendeiro foi preso, torturado e morto pelo
Exército em 1964.
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