quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um herói camponês de Itabaiana


Israel na tribuna da Câmara


Na reunião de criação de uma entidade de novos escritores, apareceu o professor Israel Elídio de Carvalho Filho, itabaianense de 74 anos, antigo ativista político de esquerda, perseguido pelo regime militar.

Pedro Fazendeiro
No final da solenidade, Israelzinho pediu a palavra no meio da platéia. Subiu na tribuna da Câmara dos Vereadores e foi como se juntassem os talibãs, os guerrilheiros da Faixa de Gaza e Bin Laden cover numa assembléia de pacatos e cordeiros seguidores de religião pentecostal. O professor soltou o verbo contra os vereadores que não fizeram nada para impedir a destruição do patrimônio histórico da cidade. Lamentou que Itabaiana não lembre de seus heróis. Como exemplo de nome digno das maiores homenagens, citou Pedro Fazendeiro, nascido em Itabaiana. Para evitar mal estar maior, o presidente da mesa interrompeu a fala do carbonário professor.

Falta boa educação na minha terra, por isso ninguém conhece sua história. Eu próprio não sabia que Pedro Fazendeiro era conterrâneo de Abelardo Jurema e Hugo Saraiva, outras duas vítimas famosas do golpe militar de 1964. Pela educação, o povo torna-se apto a sentir a importância de preservar a memória dos grandes homens e dos fatos históricos. Esse o autêntico culto cívico, preservando a luz da consciência coletiva. A atual geração tem recebido auto-sugestão de sua decadência, e aí, meu senhor, a autoestima vai para o ralo.

Fui estudar a história de Pedro Fazendeiro, encontrei trabalho interessante de Janicleide Martins de Morais Alves, graduada em História pela UFPB. Um trecho da monografia:

“Pedro Inácio de Araújo nasceu na cidade de Itabaiana, Paraíba, no dia 08 de junho de 1909, filho dos agricultores Pedro Antônio Felix e Ana Maria da Conceição. Casou com Maria Júlia de Araújo com quem teve cinco filhos. Após sair do quartel, comprou fazendas (tecidos) e passou a vender, recebendo, assim, o nome de Pedro Fazendeiro. Vendendo tecidos conheceu e se instalou como posseiro em Miriri, região que ficava entre Mamanguape e Sapé e que pertencia a Pedro Ramos Coutinho, irmão de Renato Ribeiro Coutinho, um dos maiores usineiros do Grupo da Várzea. Na medida em que andava a pé, vendendo tecidos em praticamente toda a Várzea do Paraíba, Pedro estabelecia amizades, adquirindo um grande conhecimento geográfico da área.

As reivindicações e conquistas do campesinato do Engenho Galiléia/PE chegavam à
Paraíba incentivando os camponeses deste estado a também lutar por seus direitos. Pedro havia conhecido os ideais socialistas através do irmão mais velho e, indignado com a situação de abandono no campo, almejava uma transformação na condição de vida dos agricultores. Então, o ano era 1955, quando realizou ao lado de João Alfredo Dias (Nêgo Fuba), o primeiro encontro dos camponeses de Sapé na casa de João Pedro Teixeira. Posteriormente, assumiu o cargo de 2º Secretário na primeira Diretoria da Liga Camponesa de Sapé, consolidando sua permanência na mesma. A partir daí, se entregou com paixão ao movimento e às campanhas de massa. O fato de conhecer bem a geografia da região facilitou o seu apoio na formação de várias Ligas Camponesas no estado da Paraíba. Sua sabedoria e jeito terno de ser, convencia os mais rudes camponeses a aderirem ao movimento. Expedito Maurício da Costa enfatiza a astúcia de Pedro Fazendeiro, destacando que, para entrar nos canaviais dos usineiros, o líder carregava um tabuleirinho de cocada para vender aos cortadores de cana e divulgar o movimento camponês.”

Pedro Fazendeiro foi preso, torturado e morto pelo Exército em 1964.

Leia o conteúdo do trabalho em:



Nenhum comentário:

Postar um comentário