domingo, 11 de novembro de 2012

O trem dos sonhos


Caminho de ferro entre Guarita e Mogeiro, sendo devorado pelo mato


Linha do trem em Itabaiana, hoje não leva nada a lugar nenhum
No tempo em que trabalhei na Rede Ferroviária Federal, entre os anos de 1976 e 1999, fui telegrafista, despachante de bagagem, bilheteiro, manobrador e chefe de estação. Nesse período, já as autoridades houveram por bem acabar com a estrada de ferro para dar lugar ao asfalto, à indústria automobilística, como mandava o dominador americano.

Testemunhei a morte lenta de nossa rede ferroviária. Nós, empregados da empresa, andando cada dia mais de orelha caída, decepcionados, com um desengano, um desapontamento de pai de família que vê sua prole se perder no mundo de realidade sinistra, com a frustração de velhos nacionalistas e suas esperanças vãs de desenvolvimento.

Hoje, conversando com um companheiro ferroviário, soube que a Transnordestina não passará na Paraíba e que os últimos ramais ferroviários que cortam o Estado serão definitivamente desativados no ano que vem. Soube também de um projeto turístico que consiste em viagem ferroviária entre Itabaiana e Ingá, com destino às famosas pedras da Itacoatiara. Esse trecho, já praticamente desativado, teria financiamento do Ministério do Turismo. Uma benção para Itabaiana e Ingá, porque essa opção de lazer atrairia muita gente, seria o renascimento da alegria de uma viagem de trem combinando com a exposição de nossas grandes expressões culturais na música, nas letras e na culinária, na cerâmica e no artesanato. Esse trem histórico existe no papel e na vontade de alguns. Falta vencer a inconstância e a inconsistência dos políticos, a falta de interesse dos gestores e a duvidosa vontade política de Brasília para ajudar o Nordeste pobre, especialmente a Paraíba ajoelhada e humilhada pelos que mandam neste país.

A Toca do Leão não se melindra em buscar a opinião dos nossos deputados, entre eles o Manoel Júnior, um cidadão que tem acesso aos centros de decisão na Capital Federal e é votado nesta região. Dr. Manoel, dê notícias desse projeto do trem Itabaiana/Ingá, porque a gente fica nutrindo suspeita de que essa é mais uma lenda política. Dr. Manoel, da terra dos guerreiros de lança do maracatu, fale do trem da cultura popular, ajude a sonhar com esse comboio que tem como chefe de trem um Capitão do Bumba-meu-boi montado em seu cavalo marinho, guarnecido pelo cabo 70 do babau, sendo maquinista o bedegueba do pastoril e seu foguista, um Rei de Reisado conduzindo a Mestra do pastoril e a Rainha do Maracatu levando o povo guerreiro dos caboclinhos para ver os Doze Pares de França nas paredes misteriosas da pedra do Ingá.

Lá vai nosso trem desaparecendo na curva de Mogeiro, passando na ponte de Guarita, entrando na Itabaiana do Norte e restaurando antigas riquezas, esquecidos faustos. Esse trem que envultou-se, quer dizer, tornou-se invisível, de vez em quando faz soar o longo apito com seu peculiar colorido folclórico, próprio dos trens de sonho.

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