Caminho de ferro entre
Guarita e Mogeiro, sendo devorado pelo mato
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Linha do trem em Itabaiana,
hoje não leva nada a lugar nenhum
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No tempo em que trabalhei na
Rede Ferroviária Federal, entre os anos de 1976 e 1999, fui telegrafista,
despachante de bagagem, bilheteiro, manobrador e chefe de estação. Nesse
período, já as autoridades houveram por bem acabar com a estrada de ferro para
dar lugar ao asfalto, à indústria automobilística, como mandava o dominador
americano.
Testemunhei a morte lenta de
nossa rede ferroviária. Nós, empregados da empresa, andando cada dia mais de
orelha caída, decepcionados, com um desengano, um desapontamento de pai de
família que vê sua prole se perder no mundo de realidade sinistra, com a
frustração de velhos nacionalistas e suas esperanças vãs de desenvolvimento.
Hoje, conversando com um
companheiro ferroviário, soube que a Transnordestina não passará na Paraíba e
que os últimos ramais ferroviários que cortam o Estado serão definitivamente
desativados no ano que vem. Soube também de um projeto turístico que consiste
em viagem ferroviária entre Itabaiana e Ingá, com destino às famosas pedras da
Itacoatiara. Esse trecho, já praticamente desativado, teria financiamento do
Ministério do Turismo. Uma benção para Itabaiana e Ingá, porque essa opção de
lazer atrairia muita gente, seria o renascimento da alegria de uma viagem de
trem combinando com a exposição de nossas grandes expressões culturais na
música, nas letras e na culinária, na cerâmica e no artesanato. Esse trem
histórico existe no papel e na vontade de alguns. Falta vencer a inconstância e
a inconsistência dos políticos, a falta de interesse dos gestores e a duvidosa
vontade política de Brasília para ajudar o Nordeste pobre, especialmente a
Paraíba ajoelhada e humilhada pelos que mandam neste país.
A Toca do Leão não se
melindra em buscar a opinião dos nossos deputados, entre eles o Manoel Júnior,
um cidadão que tem acesso aos centros de decisão na Capital Federal e é votado
nesta região. Dr. Manoel, dê notícias desse projeto do trem Itabaiana/Ingá,
porque a gente fica nutrindo suspeita de que essa é mais uma lenda política.
Dr. Manoel, da terra dos guerreiros de lança do maracatu, fale do trem da
cultura popular, ajude a sonhar com esse comboio que tem como chefe de trem um Capitão
do Bumba-meu-boi montado em seu cavalo marinho, guarnecido pelo cabo 70 do
babau, sendo maquinista o bedegueba do pastoril e seu foguista, um Rei de
Reisado conduzindo a Mestra do pastoril e a Rainha do Maracatu levando o povo
guerreiro dos caboclinhos para ver os Doze Pares de França nas paredes
misteriosas da pedra do Ingá.
Lá vai nosso trem
desaparecendo na curva de Mogeiro, passando na ponte de Guarita, entrando na
Itabaiana do Norte e restaurando antigas riquezas, esquecidos faustos. Esse
trem que envultou-se, quer dizer, tornou-se invisível, de vez em quando faz
soar o longo apito com seu peculiar colorido folclórico, próprio dos trens de
sonho.
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