Adeildo Vieira
Há shows que são meros shows, mesmo que bons. Outros, entretanto, são verdadeiros conceitos, já que trazem ao espectador, além de boa música, reflexão sobre questões que sempre parecem urgentes de se levantar e que elevam a cena musical ao merecido patamar da glória. Assistir a esses espetáculos é como tomar aulas pelo viés da dignidade de quem leva a beleza da vida para o palco e ainda deixa mensagens de profissionalismo, competência aferida pelo talento, além da esperança de que a música que nasceu do coração sempre será capaz de ecoar no coração de multidões.
Na última quarta-feira assisti a um desses shows. No pretexto de ser um TCC –Trabalho de Conclusão de Curso – a concluinte de bacharelado em música - habilitação canto popular, Lucyane Alves, transformou uma banca acadêmica num público embevecido ao som das canções emblemáticas de Luiz Gonzaga cuidadosamente executadas por uma banda composta, em sua grande maioria, por alunos e professores da UFPB. Naquele momento a academia se curvava aos pés do talento de uma menina de pouco mais de vinte anos que assinava os arranjos, a direção artística e musical de um espetáculo que honra as comemorações dos cem anos de nascimento do Rei do Baião.
Nascida em berço esplêndido e embalada nos braços da música brasileira, a filha de Morena e Zé Badu conheceu os palcos ainda adolescente, integrando o grupo Clã Brasil, um ajuntamento familiar unido pelo afeto e pela força da canção. Essa menina se fez exemplo muito cedo. Jovem, talentosa e desde sempre envolvida em altos níveis de profissionalismo, Lucy Alves anda na vanguarda dos movimentos que prezam pela excelência das produções musicais pautadas no compromisso com a boa música. E faz tudo isso apenas tocando e cantando. Sua postura é paradigma para as agoniadas e às vezes sisudas discussões de nossa categoria musical, que busca a tão desejada qualidade profissional em nossos eventos. Qualidade só atingida através de altos padrões de produção e do esmero com a música, gerada por dedicados estudos e ensaios permanentes.
Este foi mais um espetáculo que fez consagrar a proposta do Departamento de Música da UFPB – DEMUS, de transformar trabalhos acadêmicos em eventos que trazem oxigênio às nossas posturas profissionais e projetam novos artistas para cena musical do nosso estado. Trata-se de uma proposta que justifica a função social da Universidade, embrenhando-a no seio criativo da sociedade e sedimentando conceitos que se firmam como conteúdo e forma. São trabalhos supervisionados por critérios científicos, traçados por professores do DEMUS e que, ao mesmo tempo, geram encantamento ao público mais exigente.
Os elementos que envolvem este show o tornam um conceito em todos os sentidos, deixando ainda a certeza de que a música brasileira pode ocupar por inteiro o coração da nova geração. Como resposta, a banca examinadora do TCC de Lucy Alves acompanhou a nota conferida pelo púbico, que superlotou o auditório da Estação Cabo Branco. Tinha que ser dez.
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