quinta-feira, 8 de novembro de 2012

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA




Na Praça Rio Branco não há sorriso amarelo
Adeildo Vieira
Distraidamente pisei no pé dele, aplicando o vigor dos meus setenta e dois quilos sobre seu dedo mindinho nu. Esperava eu que o estranho cumprimento do meu tênis àquele pé arrancasse do compenetrado senhor um olhar lacrimejante e revoltado, quem sabe elogios irônicos à minha querida mãe ou irados desejos trucidantes à minha pessoa. Os dois segundos de expectativa que se seguiram após o meu pedido de desculpas trouxeram um desfecho mais que surpreendente ao episódio, pois o senhor sorriu e ainda me agradeceu pelo feito. Antes que eu perguntasse o porquê de sua resignação, ele explicou que ali, naquela praça, as pessoas manifestavam um sentimento de cordialidade tão intenso e corriqueiro que dava prazer ter seu copo derramado por um esbarrão, sofrer um distraído esmagamento de dedo ou até mesmo levar uma cotovelada involuntária no nariz. Tudo isso vale a pena ante um sorridente e honesto pedido de desculpas, garantiu o simpático senhor, segurando, ainda trêmulo de dor, o seu copo de uísque. 
Cordialidade é artigo em falta na prateleira dos dias, mas não naquela praça onde o estoque de cumprimentos cordiais se faz inesgotável no depósito das almas que buscam na paz da música brasileira um recanto de sossego. Lá na Praça Rio Branco distribuem-se sorrisos ao som do choro e choram de emoção os mais contempladores, ao se depararem com os sorrisos que se projetam no coração da multidão que cresce a cada dia. As notas debulhadas do bandolim estendem o palco à plateia, onde, embevecidos pela música brasileira, rodopiam casais, lembrando uma caixinha de música onde se depositam as joias de Pixinguinha, Jacob e Ernesto Nazareth.
A Praça do Chorinho, como já passou a ser conhecida, inspira liberação do meu melhor personagem, aquele que adora sair de casa pra brincar de paz ao som de música brasileira feita pra acalmar o coração. Ele usa chapéu, gosta de se encharcar de perfume, pôr o sapato mais confortável e sair distribuindo sorrisos. Sai à cata de dedos mindinhos ansiosos por esmagamento em troca de um choroso pedido de desculpas. Meu personagem favorito adora tomar uma cachacinha pra transformá-lo de mero falador a tagarela, isso sem comprometer a embriaguez provocada pela tarde de sábado embebida de som e de luz. Sim, porque o que o tem embriagado mesmo é sentir filetes de luz projetados em seu copo, alvo caprichoso do sol que se embrenha nos galhos das árvores seculares daquela praça. Se tem uma coisa que ele não resiste é tomar goles de luz, assim como tragos de João Pernambuco.
A Praça Rio Branco tornou-se desaguadouro do Rio Sanhauá. A cidade já se reconhece naquele rito de afirmação brasileira que transformou nosso sábado em ponto de encontro lúdico, encanto lírico. Aquele palco é o portal que nos dá acesso a um futuro de paz, ligado pela história perene da música brasileira. Aqueles músicos são os anfitriões do paraíso.
Quando voltar à “Praça do Chorinho”, penso seriamente em oferecer meu pé aos sapatos distraídos das tardes chorosas de sábado. Naquela praça eu dou o meu pé a torcer. Se levar os pisões, sorrirei aos cordiais pedidos de desculpas. Se o sapato agressor carregar alguém acima de cem quilos, levarei resignadamente meu sorriso ao hospital. Mas vou bem contentinho!
Ah, e antes que eu me esqueça: Viva Canhoto da Paraíba!

Um comentário:

  1. Vamos saudar os Parabéns ao blogueiro Ranys Ribeiro do blog click conexão que completa aninho hoje 9 de novembro, parabéns amigo, felicidades...

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