sábado, 7 de abril de 2012

Vamos manter o trem sem rumo que logo chegaremos lá


Neste sábado de Aleluia, bicos de aves de rapina furam minha alma, se é que eu tenho uma. A cabeça é uma lama só, pegadiça e lenta.

Diz o catecismo católico que o Sábado de Aleluia é apenas um dia de faxina ou de preparação para a Páscoa. Não tem maiores liturgias. É para ficar no silêncio, meditando.

Eu medito nos jeitos de conviver com a dor. A manha e as posições convenientes para superar o sofrimento físico. Hoje não tenho condições de me concentrar nos cantos mais tenebrosos da minha história pessoal, rincões escuros onde a gente tem medo de mexer. Hoje eu reflito mais sobre os calos que essa rede faz, indo e vindo. Vai doendo e volta vazia. Vai ferida e volta consumida.

Vítima dessa virose faminta que devora até a fé do cristão, sou um que nunca teve consciência do teor espiritual do Sábado de Aleluia e que, neste momento, dedico-me a entender o espaço onde jaz esse pobre pescador de rede suja recalcado pela própria força que o move.  

Sou um Judas inocente no Sábado de Aleluia.

Um comentário:

  1. Oi Fábio: Criei-me odiando Judas que traiu Jesus e o entregou aos fariseus que o levaram à cruz. Era alegria incontida ver Escariotes sendo malhado pela meninada, como eu,ignorante de seu papel na trágia do filho do Homem.
    Depois quando me inteirei que, sem seu gesto, não teria havido a redenção da humanidade, apequenei meu desprezo pelo pecador do maior delito - a traição. A Igreja Católica tem tentado minimizar a rejeição por Judas, através de Judas Thadeu , porém, em vão. O coitado vai carregar a maldição, por todos os séculos, dos séculos. Amém.

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