domingo, 25 de setembro de 2011

POEMA DO DOMINGO (1)




VIVA O GORILA!

Fábio Mozart

Quero fazer um poema fragmentado
grosseiro, vulgar e incivil,
dissidente, herege e pedante
como a afetação dos sério-cômicos sociais. 

Quero fazer um poema doente,
redundante, pequeno e inimigo,
um poema feito de cacos
de dentes apodrecidos
e enfeitá-lo com distintivos oficiais. 

Quero rasgar um poema safado,
absurdo, estúpido e enorme,
com buracos desse tamanho
escarrando no olho do lírico. 

Quero editar um poema manchado
com o sangue de um lazarento
e sujá-lo com honras militares. 

Quero escrever um poema ridículo
e vendê-lo a preços módicos
nas trincheiras da civilização cristã. 

Quero lavrar um poema decadente,
paulatinamente podre,
bombasticamente bosta,
inexoravelmente néscio,
monumentalmente miséria
e ofertá-lo em abundância
em qualquer ordem do dia
para a grandeza de nossa ferocidade
e glória da procedência primata.

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