terça-feira, 12 de abril de 2011

Sivuca tem carreira registrada em livro


Peça-chave para entender a música instrumental feita hoje no Brasil, o instrumentista, arranjador e compositor paraibano Sivuca (1930-2006) finalmente ganha registro de sua carreira com o lançamento de Sivuca e a música do Recife (Publikimagem), livro escrito pela socióloga pernambucana Flavia Barreto (filha do artista) e o jornalista capixaba Fernando Gasparini. O foco na capital pernambucana não é questão de bairrismo, pois lá ele realizou um de seus maiores feitos: a introdução da sanfona na música sinfônica.
Um dos oito filhos de família de lavradores de Itabaiana, no interior da Paraíba, Sivuca ganhou sua primeira sanfona (alemã, de oito baixos) aos 9 anos, trazida pelo pai de uma feira – como a que ele retratou num de seus grandes sucessos, Feira de mangaio (com Glória Gadelha, sua última mulher). Com o instrumento debaixo do braço, aos 15 anos se mudou para o Recife, decidido a iniciar carreira de músico. O primeiro emprego foi na Rádio Clube de Pernambuco, também conhecida como PRA-8.
Na cidade, teve a oportunidade de estudar com Guerra-Peixe, experiência que Sivuca comparou a “10 anos de conservatório”. E, claro, foi no Recife que entrou em contato com o frevo: percebeu a dimensão do gênero e a necessidade de colocá-lo em contato com outras formas musicais contemporâneas para manter vivo o interesse do público. Isso definiu não só o que o artista viria a tocar depois, mas também influenciou gerações posteriores de instrumentistas.
Sivuca costumava dizer que devia muito ao Recife, pois saiu de lá pronto para os desafios da carreira. Talvez ele estivesse mesmo certo. Depois de 10 anos na capital pernambucana, fez temporadas na Rádio Record (em São Paulo), gravou seu primeiro disco (Tico- tico no fubá, em 1950, no Rio de Janeiro) e construiu carreira internacional. Fora do Brasil, morou em Paris, Lisboa e Nova York. Só nessa última foram 12 anos, época em que trabalhou com a cantora sul-africana Miriam Makeba. Foi ele quem assinou o arranjo do sucesso Pata pata. Os dois excursionaram por vários países.
Legado
“Esse é o primeiro livro que fala sobre Sivuca de maneira sistematizada, incluindo sua trajetória pessoal e profissional. Tenho posição privilegiada não só como filha, mas também como socióloga”, afirma Flavia Barreto. Ela conta que tem feito muitas palestras sobre o pai em escolas, universidades e eventos. Também pretende disponibilizar material de pesquisa a respeito da vida dele. A ideia é estimular que mais trabalhos a respeito do músico sejam produzidos. A propósito, toda a discografia do artista foi catalogada, digitalizada e está disponível para consulta em várias instituições do país.
“Tenho feito trabalho grande para que meu pai seja percebido como merece. Mais que músico representativo para o forró e o baião, Sivuca fez parte da bossa nova e da cena jazzística internacional, sem falar no fato de ter levado a sanfona para o ambiente sinfônico. Ele passou por vários gêneros musicais de maneira entrelaçada”, sintetiza. Os últimos discos do paraibano não deixam dúvidas disso: Sivuca sinfônico (gravado com a Orquestra Sinfônica do Recife) e Terra esperança (com 66 instrumentistas de 11 grupos eruditos e populares paraibanos).
Projetos
Ainda neste semestre, Flávia garante o lançamento da biografia completa de Sivuca, cuja pesquisa foi iniciada em 2006. “Quando estávamos na parte relativa ao Recife, havia tanto material que me dei conta de que ele não caberia no número de páginas que havia programado inicialmente. Por isso decidimos lançar este livro”, justifica. Pelo mesmo motivo, já está no forno um terceiro projeto: A bossa nova de Sivuca, dedicado exclusivamente ao período em que o paraibano morou no Rio de Janeiro e em Paris. Parte desse material será disponibilizado em breve no site www.sivuca.net.

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