Vavá, de bigode branco, com amigos |
Vavá da Luz é um piadista,
gozador e bon-vivant que mora em Ingá do Bacamarte, figura a quem tive o prazer
de conhecer ano passado em uma entrevista no nosso programa radiofônico Alô
Comunidade. Hoje, ele está brindando aos seus setenta e poucos anos. Sendo um
sujeito dócil, quando bem alimentado, Vavá gosta de reunir os amigos em sua
fazenda Senzala para, entre outras coisas, exercitar a masturbação afetiva, que
é a prática do amor próprio. Falar dele, de sua vida que é um livro aberto e
escandalosamente cínico, cheio de lances hilariantes, erros grosseiros, acertos
fenomenais, cagadas homéricas e farras idem. O homem é adepto da filosofia do
velho Ameba: “Tente outra vez. Erre outra vez. Erre melhor”.
Meu compadre Vavá da Luz é um
desses caras que espantam a morte com cacetadas de humor. Se a gente não se
defender da vida, ela nos matará. Defendo a tese de que temos um santo em cada
esquina. Resta saber quem se digna a ser uma pessoa humana sem culpa, sem
frescura e disposto a enfrentar o espelho todos os dias e rir da própria cara.
Esses santos são os que se sobressaem.
Na Senzala de Vavá da Luz cabe
todos nós, humanos, simples, cordatos, bem humorados, bêbados e filósofos,
tarados e assexuados, loucos e sérios, azedos e animados, bestas e vesgos de
idiotice. Enfim, Vavá é um homem que tem um coração universal, acolhedor dos
amigos e implacável com os inimigos. Esses, ele traça com sua poesia ferina.
Enquanto a turma luta por mais dinheiro e mais poder, Vavá mostra suas bundas
sujas e rotas. É assim o humor em geral. Vavá da Luz é um humorista
enfraquecedor do poder dos cínicos e vis, como deve se comportar todo palhaço
que se leve a sério. (Levar a sério é força de expressão, se me entendem...)
A picareta e falsa bruxa Madame
Preciosa tentou, sem sucesso, manter um caso amoroso com Vavá da Luz,
prometendo mundos e fundos e, no fim, dando só o que tem. Essa divindade do
panteão moderno da picaretagem mística foi quem ensinou Malafalha a meter a mão
santa nos bolsos do proletariado abestado, mas, com Vavá da Luz ela se deu mal.
Queria porque queria fundar com Vavá uma seita cultuando a vida no Paraíso,
todo mundo nu e solto, soltando a franga no pomar primordial, pregando a
liberação da mulher e a sociedade do matriarcado, onde ela teria autoridade
sobre os homens, que passariam a comer em sua mão e beber em sua buça. Em
determinado trecho do catecismo de Preciosa, teria a foto dela com Vavá, os
dois despidos de roupa e de vergonha nas fuças, com a legenda: “Eva e Adão.”
--- Viadão é o caray! – disse
Vavá da Luz, abandonando a megera em sua mata, fundando em seguida uma nova
seita islâmica, bundista e trocista, cujo sacerdote será Tião Lucena,
prometendo salvar as almas depenadas e encher os copos vazios na grande festa
de iniciação na fazenda Senzala.
Nenhum comentário:
Postar um comentário