Poeta Heleno Alexandre |
Registro
em ata minha admiração pelos poetas repentistas. A sabedoria cósmica e o humor
arretado desses caras os tornam artistas excepcionais. Hoje quero falar de dois
poetas desse naipe, Heleno Alexandre e Antonio Xexéu. Heleno é de Sapé, tem 36
anos, diretor de programação da Rádio Comunitária Sapé, produtor e apresentador
do programa “Violas e Violeiros”. Já cantou até no Ceará, no programa da TV
Diário “Ao Som da Viola”. Na Paraíba, de vez em quando aparece no “Cantos e
Contos” da TV O Norte. Mas o que gosta de fazer é apresentar-se em escolas
públicas e comunidades carentes, levando a cultura popular para as novas
gerações.
Antonio
Xexéu é de Itabaiana, tem 53 anos, poeta de rua, como gosta de dizer. Pega a
viola e sai cantando pelas feiras do Nordeste, com ou sem parceiro, com público
ou sem, com dinheiro ou sem nenhuma grana. Admirador do grande Manoel
Xudu, Xexéu um dia encontrou-se com Heleno em uma venda, na fazenda Taumatá.
Depois de engolidas algumas lapadas de mel de abelha com cachaça de cabeça, os
dois vates começaram a cantar safadeza, aqueles versos fesceninos, um bocado
licenciosos. Heleno Alexandre é um sujeito erudito, escolado, longe do padrão
dos poetas repentistas analfabetos do Nordeste. Ele faz questão de esclarecer
que na Roma antiga que falava latim, os versos fesceninos eram populares,
porque se acreditava que a obscenidade tinha o poder de afastar o mau-olhado.
Antonio
Xexéu é também cantor da trova libidinosa, mas sem a erudição do companheiro.
Afinal, “só terminou a cartilha do ABC e a tabuada”. Começaram a cantar um
“trocado”, quando Heleno falou de suas façanhas masturbatórias:
Eu
trabalho atualmente
Na
Fazenda Santa Esther
Meu
patrão tem uma mulher
Que é o
satanás em gente
Quando
ele está ausente
Ela chega
no terreiro
Passa a
mão no corpo inteiro
Aumentando
o meu tesão
Eu vou me
acabar na mão
Feito
colher de pedreiro.
Xexéu
aproveitou a passagem de um casal de caprinos para cantar:
A cabra ensinou ao bode
A
demonstrar compostura
Acabar
com essa frescura
De comer
cu, que não pode!
Eu faço
barba e bigode
Disse o
bodinho tarado
Já
ficando aperreado
Com o
cacetinho duro
Encostou
no pé do muro
Dizendo:
fode ou não fode?
Heleno
tem dez anos que canta repente. Até escreveu um livro por nome “De repente... Dez
anos”, que pretende lançar em breve. Antonio Xexéu publica folhetos de cordel
com temas atuais e estórias que ele inventa. O último folheto ele escreveu em
homenagem à prefeita de Itabaiana, dona Dida. Foi na última campanha política.
O folheto começava assim:
Até quem
não é daqui
Conhece a
nossa prefeita
Uma
mulher competente
Honesta e
muito direita
Que
plantou dignidade
E agora
faz colheita.
Assim o
poeta canta
Nessa
nossa louvação
O mister
de dona Dida
Na sua
administração
Chamada
“Um Novo Tempo”
De
competência e ação.
Mas,
porém, todavia, a prefeita não honrou o compromisso de pagar ao poeta, que por
vingança espalhou uns versinhos maldosos:
Dona Dida
e Antonio Carlos
Protagonizam
novela
Ela
falando mal dele
Chamando
moça donzela
Ele
esculhamba a prefeita
Não
presta ele nem ela.
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