domingo, 19 de junho de 2011

POEMA DE DOMINGO


DECLARAÇÃO DE AMOR

Porque alimenta a boca que lhe morde,
Eu amo esse leal cachorro quente;
O outro au-au balança o falso rabo
E abocanha a perna da gente.

Descobrindo segredos fictícios,
Eu amo a notícia improcedente.
Jornal fantasma e dissimulado,
De nossas fraudes sendo conivente.

Eu amo a árida e áspera ama-seca
E o serviçal intransigente,
Servindo com leal descortesia
Ao seu patrão gaiato e impenitente.

Eu amo a sofrida dor de dente
Que nos ataca como um diluente,
Fazendo esquecer por um instante
A verdadeira dor que a gente sente.

Eu amo o louco que se vê na rua
Com sua insanidade indigente,
Porque é retrato em preto, branco e fusco
De nossa essência vulgar e demente.

Eu amo a forma bacteriana
Do protozoário que é meu parente.
Desde os primórdios da matéria bruta
Esmera a vida como concorrente.

Eu amo o triste e grave arrebol
Com o sobrecéu azul deficiente
Nas horas mortas de um dia torpe
E toda aflição adjacente.

Eu amo a pedra, a cal e o cimento
Que no meu túmulo estarão presentes,
Cobrindo com a sombra esvaecida
A inspiração e a vida imponentes.

Eu amo enfim meus nervos convulsivos,
O falso júbilo irreverente,
Reações de um ser que agoniza
E induz ao erro o subconsciente.

Fábio Mozart


COMENTÁRIOS

Poesia desabafo de um coração meigo e carente. Como todo coração de poeta que vive o que sente e, por conta disso, muitas vezes pensa estar à beira da loucura, quando, na verdade, a lucidez é tanta que confunde e transforma o arrebol no fim do mundo. Perdoe-me o ''devaneio'' que a sua belíssima poesia me levou. Mas, a culpa é sua. Adorei seu poema.

Ysolda Cabral
Recife/PE

Tenho 19 anos, nascido numa sexta-feira 13 de setembro, saudosista, retrógrado, vegetariano e anti-social. Uma bela poesia, meu caro! Lembro Alphonsus Guimarães:
“Cantem outros a vida: eu canto a morte”.

Derek Soares Castro
Rosário do Sul/RS

O cara começa o “poema” com uma piada e termina por tentar meter o nariz no mundo obscuro de Augusto dos Anjos, passando anos-luz desse universo. Alô poeta bissexto e bundão: nem só de morte vive a poesia. No entanto, não só de poesias "vive" a morte.

Do seu crítico preferido,

Maciel Caju.

RESPOSTA: Maciel Caju, vai tomar no cu!

Um comentário:

  1. Fábio
    Tua poesia é linda! Mas como sempre triste.Retrata o teu estado de alma. A poesia é sempre um desabafo do sentimento atual.
    Espero um dia te ver cantando a vida!Exaltando a esperança, a alegria e o amor!Sei que a fará com maestria pois es um grande poeta.
    Luiza Pedros -Recife

    ResponderExcluir