segunda-feira, 20 de junho de 2011

Guerra dos centavos


Meu grande desafeto Maciel Caju, além de economista é econômico. Antigamente seria chamado de guarda-livros, empregadinho do comércio que fazia escrituração contábil. Ele ostenta um diploma de bacharel em contabilidade e vive arrotando autoridade nas ciências econômicas. Um “amostrado”, como diria o meu amigo Sonsinho, esse um perdulário igual a mim. Confesso que sou esbanjador, gasto em excesso em coisas sem muita valia, tipo o segundo volume do livro “Os oitenta anos de FHC, o Rei do Plano Real”. 

Maciel Caju resolveu comprar uma briga com as grandes redes de supermercado. Foi ao banco e trocou dez reais em moedas de 1 centavo de real, medida de valor também conhecida como "Cocô de Louro", a moeda mais sem valor do mundo, porque não existe nada que valha um ou dois centavos e nenhum comerciante tem moeda desse valor para dar o troco. Munido das moedinhas, foi ao supermercado e comprou 72 reais e 28 centavos em mercadorias. Pagou no caixa exatamente o valor da compra, incluindo os vinte e oito centavos. A mocinha recusou-se a receber as moedinhas estranhas. O gerente foi convocado e ameaçado de prisão pelo intransigente Maciel Caju sob a acusação de recusar receber moeda oficial do país. Depois de alguma confusão, Caju conseguiu deixar vinte e oito moedinhas de 1 centavo de real no caixa da loja. 

“Vou desmoralizar essa estratégia calhorda de venda que é o anúncio de mercadorias com preços que terminam em 99 centavos”, ameaça o desocupado financista. De fato, temos a ilusão de que estamos pagando menos, mas no fim eles arredondam para mais. Nisso eu tenho que concordar com Caju: essa é uma patifaria que vem corroborar a opinião de que todo comerciante é larápio. De centavo em centavo eles enchem os bolsos e o consumidor sai lesado. No banco onde trocou as moedas, informaram ao nosso paladino da economia popular que milhões de moedas de 1 centavo são cunhadas e postas em circulação, exatamente para facilitar o troco, mas ninguém vê circulando essas moedinhas. “Não aceito bombom de troco e peço a todos que também não recebam quinquilharias no lugar das moedas”, diz Maciel Caju, na sua cruzada pela moralidade nas relações comerciais.  

Brasileiro não exige nem nota fiscal, quanto mais o troco exato. Essa prática perniciosa de não dar o troco em centavos é já uma coisa habitual do relacionamento comercial no Brasil. Vou copiar a estratégia de Caju e sair por aí espalhando moedas de 1 centavo nas lojas de 1,99. Depois eu conto as consequências da empreitada pela moralização do comércio. É que, igual ao Caju, também sou um ocioso e apto a fazer alarde por 1 centavo, mesmo sem ter o comportamento egoísta e o perfil de miserabilidade do meu rival.

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