Estação de Paula Cavalcanti |
A crônica de hoje é sobre
memória. É sobre a velha e saudosa rede ferroviária. De sua malha que
atravessava Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, restaram apenas
escombros, estações abandonadas, trilhos e material rodante enferrujando em
ramais mortos, bilhões de prejuízo para o país. O vento forte da privatização
acabou com nossa ferrovia. Examinando bem, esse talvez tenha sido o mais
desastroso projeto de privatização de nossa estrutura de transporte. Para
atingir as metas do neoliberalismo, o Governo decidiu não mudar a gestão das
empresas públicas para torna-las mais eficientes. Privatizaram o patrimônio
público em meio à fraude e falta de controle, a partir de 1992. As empresas que
assumiram a administração das malhas ferroviárias não zelaram pela manutenção integral
das linhas sob sua gestão. Sucatearam os ramais pouco rentáveis, em desrespeito
aos termos da concessão.
O Governo Federal
continuou omisso nesses anos todos. Não fiscalizou, não exigiu o cumprimento
das obrigações das empresas concessionárias. Agora, o Governo está recebendo de
volta trechos da malha ferroviária rejeitados pelas concessionárias. Na
Paraíba, toda a malha encontra-se em estado adiantado de depreciação. O que o
Governo vai fazer com esse patrimônio? Não tem dinheiro para investir. Muitas
cidades ainda sonham com a volta do trem como projeto turístico. Falta
iniciativa, projetos consistentes e vontade política.
Mas eu queria falar
mesmo era de uma estação onde trabalhei, Paula Cavalcanti, no sítio
Entroncamento, município de Cruz do Espírito Santo, na Paraíba. Umas fotos do
Robinho França, filho do ferroviário e meu amigo Romildo, postadas no Facebook,
me remeteram aos bons tempos de Agente de Estação naqueles ermos. Quando lá
trabalhei, a vilazinha ferroviária já estava quase desabitada, a maré da
decadência da rede ferroviária esvaziava seus quadros e sua estrutura. Quando
me aposentei, Entroncamento já estava fechada. Da estação histórica, centro
social de um mundo que não existe mais, só lembranças. Os engenhos de açúcar ao
redor não são mais de fogo morto, porque apagaram-se até suas estruturas,
destronaram os coronéis senhores de engenho cujo cemitério é atualmente um
lugar de escombros. As casas grandes e demais patrimônios históricos da região
já tombaram. Só a estaçãozinha continua de pé, aguardando solitária o golpe
final do tempo e do descaso.
Meus cumprimentos,
respeito, lembranças e saudações aos velhos companheiros que por ali passaram,
à história que foi construída naquele pátio ferroviário de tantos anais e
homens fabulosos como o famoso Coronel Trombone, tio de José Lins do Rego,
lendário senhor de engenho que hoje vive nos livros do romancista de Pilar.
Este quase sexagenário enxuga uma tímida lágrima, mas assim é a vida, e
incompreensíveis são os percursos da História puxando uma composição de dois
mil vagões carregados de nostalgia pelos trilhos da saudade.
Eu morei na primeira casa da fepasa com minha mãe Luciana de Oliveira.
ResponderExcluirEu morei na primeira casa da fepasa com minha mãe Luciana de Oliveira.
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