Primeiro, saber se a forma correta é poeta ou
poetisa, na linha do besteirol sem qualquer importância. As mulheres que
escrevem poemas gostam de ser chamadas de poetas, por qualquer motivo que eu
não alcanço, podendo estar ligado aos novos ventos da liberação feminina e da
igualdade entre os sexos. Dizem que dá mais dignidade ao ofício de produzir
versos.
Fica então como poeta a designação daquela
moça de Itabaiana, que escreve no Facebook. O nome dela é Renaly, filha de um
companheiro ferroviário, meu compadre Pedro Alves. Numa cidade sem horizonte
nenhum no que concerne à cultura, surge do nada um talento para manobrar as
palavras. É cedo para dizer que Renaly tem habilidade especial no mundo da
literatura, mas, pelos trabalhos que ela partilha nas redes sociais, dá pra
sentir a qualidade de sua arte. Não sei quem ela gosta de ler, quais suas
influências, se é uma dessas forças da natureza, autônomas. Sei que escreve
bem.
A poesia não está morta, nunca morreu. Só se
moveu para outras plataformas onde a luta continua. De que fala a poesia de
Renaly? Principalmente dos seus próprios sentimentos. Fala ao coração, diria um
lírico. Dick Corrigan acredita que “pessoas
brilhantes falam sobre ideias, pessoas medíocres falam sobre coisas e pessoas
pequenas falam sobre outras pessoas.” O poeta expõe as coisas, as ideias e as
pessoas. Quando invocado, o poeta não diz coisa alguma, e mesmo assim é
entendido. Ou não. A poesia de Renaly não é da nossa era ou em favor da
juventude, da mulher, contra a corrupção ou pela liberação feminina. É poesia e pronto.
As composições de Renaly começam
como uma tentativa de crônica intimista, descambam para o surreal e terminam
como um bom poema. Seu conteúdo afetivo, sensorial e conceitual transforma o
trabalho dessa moça em uma expressão de arte, onde o jogo de palavras remete à
poesia. Por isso a chamo de poeta, como poderia classificar de cronista, ou a
mescla disso tudo. Poesia tem aquele algo mais indefinível pelas palavras. É
feito a definição daquele pintor de paredes: “Arte é como o amor que a gente
sente, mas não sabe explicar o que é...”
Em linhas gerais, nas mensagens
de Renaly transparece um pessimismo difuso. Sua expressão artística adota, o
mais das vezes, o vocabulário da angústia. Reflexo desses tempos de crise e de
mudanças sociais? São as inquietações humanas, enfim, manifestadas por um
cérebro privilegiado. “A literatura é, em sua essência, uma pergunta. Se
resposta existisse, não haveria necessidade de literatura”, disse o escritor
egípcio Naguib Mahfuz, Prêmio Nobel de Literatura em 1988.
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