sexta-feira, 29 de junho de 2012

Rádio comunitária e manipulação política


Grupo tenta invadir a Rádio Comunitária Araçá de Mari

Fábio Mozart

A manipulação e a instrumentalização são os caminhos trilhados pela maioria dessas rádios que se dizem comunitárias, utilizando o rótulo coletivo apenas para disfarçar mais uma forma de apropriação do espaço público pelos interesses privados.
Na Paraíba, uma das experiências mais importantes de comunicação comunitária é a Rádio Comunitária Araçá, da cidade de Mari, pelo menos no início de sua implantação, da qual participei diretamente, história que está registrada no meu livro “Democracia no ar”. O grupo fundador buscava uma gestão coletiva e programação plural. Tivemos embates com os representantes das forças políticas locais, no entanto, a participação da rádio nos movimentos sociais e políticos jamais pendia para o lado puramente partidário.
Atualmente, a rádio sofre fortes críticas porque, segundo alguns segmentos da comunidade, vem adotando atitudes consideradas indevidas na forma de lidar com esse interessante meio de comunicação no contexto das brigas políticas locais. Conforme se pode observar pelas notícias que nos chegam, os comunicadores encontram dificuldade para viabilizar a participação de segmentos sociais mais amplos nos debates pertinentes à esfera pública política. Talvez (não conheço a realidade da emissora hoje), a organização semiprofissional ou totalmente amadora que permite o trabalho voluntário e sem interesses pecuniários dos envolvidos na operação da rádio, leve a que determinadas pessoas sem o devido traquejo comunicacional sejam fator preponderante para o acirramento de conflitos paroquiais ligados à política partidária.
A mídia convencional toma partido porque, embora seja uma concessão pública, os radiodifusores comerciais são geralmente políticos profissionais donos dessas concessões e só transmitem o que interessa ao seu jogo, nem sempre limpo, das disputas eleitorais. A informação somente flui em um só sentido, criam-se e reproduzem-se cidadãos passivos que só se contentam em estar informados e não em participar ativamente dos assuntos públicos. Na rádio comunitária, deveria ser diferente. Ela pode e deve contribuir para a democratização da política, comunicando-se com seus diversos atores, dando a conhecer suas posições, suas discrepâncias e coincidências e buscando consensos em meio aos conflitos.
Conforme notícias que chegam de Mari, o poder público ocupa um espaço desproporcional nos programas de cunho jornalístico da Rádio Comunitária Araçá, com evidentes ganhos subliminares de imagem pessoal, na contramão, inclusive, das recomendações da Justiça Eleitoral sobre propaganda pré-eleitoral de gestores e pretensos pré-candidatos a cargos eletivos.

Isso não dá direito a nenhum grupo de invadir a emissora, amedrontar comunicadores ou fazer guerrinha estéril com objetivos também francamente politiqueiros. Se querem transparência sobre a entidade beneficiária da concessão, fixação de regramento editorial e real instituição de conselho gestor da emissora, que se associem à mesma, abstraída a interferência de interesses de cunho político. 

(Publicado no blog Mari Fuxico)

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