sábado, 14 de maio de 2016

A arte como recuperadora de sentimentos perdidos


Otto Cavalcanti nos lega uns quadros, litografias e desenhos, reunidos na exposição “De Itabaiana À Catalunha”, aberta até o dia 2 de junho na Galeria de Arte Archidy Picado, do Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. O artista, hoje vivendo na Espanha, desejava que um pedaço do seu acervo fosse visto pelos seus conterrâneos da contemporaneidade. Dos quase duzentos visitantes registrados até agora no livro de frequência da exposição, apenas uma pessoa de sua terra, um rapaz de nome Fábio, morador de Campo Grande, conforme fez questão de anotar.

Aos oitenta e seis anos, Otto Cavalcanti estreia na Paraíba, pelo meu esforço pessoal na condição de comissário e conservador das obras do artista, reunidas nesta exposição. Agradecendo aos poetas Thiago Alves e Márcio Bizerril pela concepção e montagem, além de Edilson Parra, da Funesc, pela execução do evento. Sem esquecer a pintora e poeta Jandira Lucena, pela contribuição técnica e financeira no transporte e conservação dos quadros.

Tenho certeza plena de que muitos itabaianenses gostariam de ter contato com esse acervo. É, de fato, minha intenção levar a exposição para Itabaiana, movido pelo desejo de Otto de que seu trabalho seja visto pelas novas gerações. Talvez nem tanto entendido, porque uma obra de arte não tem nem carece de uma explicação. Cada olhar desnuda uma formação expressiva singular. As peças de Otto remetem à sua individualidade artística isolada.


O livro de frequência registra visitantes de Caruaru, Cuiabá, São Paulo, Princesa Isabel na Paraíba, Fortaleza, Campina Grande, Sapé e até de Santa Catarina, reflexo da onda de turismo cultural na capital da Paraíba do Norte. Uma das “assinaturas” chama a atenção. A pessoa desenhou alguns círculos e escreveu: “Juliano Moreira”. Certamente um interno do Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira em passeio. Esse alguém, talvez portador de transtorno mental, viu os quadros de Otto e fez questão de anotar sua passagem pela exposição. Não quis assinar o nome. Talvez perdida a individualidade pela desorganização mental, o paciente tem na instituição que o acolhe a sua referência de vida. Não sei. É possível que sim, ou que não. O que fica claro é que o Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira faz um trabalho efetivo de recuperação social dos seus internos. Muito bom saber que os sintomas de loucura foram, de alguma forma, substituídos por sentimentos de satisfação diante da beleza estética. 

Exposição de Otto na Fundação Casa de José Américo.



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