terça-feira, 31 de maio de 2016

Prefeitura esconde canal poluído no trajeto do revezamento da Tocha Olímpica


Pela velha rua do cabaré está programada a passagem da Tocha Olímpica com seu séquito de desportistas, falsos atletas, rufiões da imprensa, leões de chácara dos patrocinadores, políticos e outros aproveitadores do momento midiático inédito na cidadezinha. Bíceps decadentes, outros nem tanto, carregarão a Tocha Olímpica por ruas injetadas por medidas urgentes de maquiagem urbana. Exercício cínico de dissimulação. Uma pintura aqui, um buraco tapado ali, fiteiros decadentes, esgotos a céu aberto e sujeiras devidamente retirados ou mascarados. A gente tem a leviandade de achar que a simulação é necessária, para a cidade não fazer feio perante o mundo, que é tudo pelo bem de nossa imagem, embora falseada. É um exercício estranho esse de tentar enganar com encenação grosseira uma realidade emporcalhada e indecente.
Na ponte do canal, ergueram um muro. O canal é um esgoto putrefacto, fonte inesgotável de moléstias. Com o muro, esperam esconder a sujidade e a degradação ambiental que corta a cidadezinha. Não se trata de inventar uma estória para convencer sobre alguma coisa. É algo assim como defecar e colocar uma flor sobre o excremento, para fazer crer tratar-se de algo atraente e harmonioso. O alcaide até já decretou: não serão permitidas manifestações negativas. Todos devem fingir viver numa cidade higiênica e bem tratada. Ilusionismo fútil, superficial. No palanque, o alcaide falará muito, mas pouco dirá. Não dirá coisa nenhuma, na verdade. De tal forma que, hoje em dia, sua palavra vale menos do que os coliformes fecais que fluem no canal pútrido.
Aliás, para ser franco, penso que toda essa festança cumpre o papel de encobrir nossa crise. Não só os canais sujos, a falta de esgotamento sanitário, o caos urbano. Mas a crise moral, ética, tampada pelas cores escandalosas de um evento patrocinado por um refrigerante insalubre, símbolo maior do consumismo e do poder do mercado. Nossas vergonhas e indignidades aparecem todas arranjadinhas para dar bem na vista e aparecer na televisão. Sei que estou sendo incomodativo e importuno. Paciência. É como diz compadre Ameba: “eles são todos canalhas mentirosos e não querem que a gente tome nota. Eu tomo, sim”. 

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