O avô de Ravi apresentando o Botafogo ao pirralho |
Todas as noites eu penso em tempos de bem virá, como na canção de
Geraldo Vandré, e faço oração silenciosa a uma divindade não neurotizante para
que sejam ditosos os futuros dias das minhas pessoas e instituições queridas,
quando seu tempo não for o meu tempo, mas que de alguma forma eu esteja perpetuado
na genética dos parentes ou na corrente eterna dos adeptos das paixões
inexplicáveis por um time de futebol, por exemplo.
A gente se inventa e se descobre humano quando interage com esses
apegos. Mesmo embalado na minha desesperança e falta de fé na humanidade, uma
miragem profícua mostra os dias de amanhã mais felizes para os que são
sagradamente meus.
Resumindo: cinquenta anos depois que eu morrer, ninguém se lembrará de
mim, mas meu neto Ravi certamente estará dando seu esforço para melhorar o
mundo e meu glorioso Fogão estará seguindo sua trilha de imortalidade
esportiva.
A nossa geração, que passou por tantas provações, tem o dever de pensar
no futuro com esse olhar crédulo. Enquanto isso, ficamos aqui gemendo as dores
da idade, mas ainda aprendendo, lendo, colecionando camaradas, gritando gol e
fluindo a afeição dessas criaturinhas milagrosas como só sabem ser os pirralhos.
Um dia alguém me chamou de intelectual engajado. Na hora fiquei ancho,
sem que percebessem minha ignorância. Não sabia o que era um intelectual
engajado. Fui no “pai dos burros” (na época não tinha o “pai” eletrônico) e me
abismei: engajado significa aliciador, subornador. Chamaram-me de corruptor e
eu agradeci, vaidoso e afetado.
Outro dia acordei e tinha sessenta anos. Percebi na ocasião que eu não sou intelectual, poeta talentoso ou sabedor do beabá de qualquer ciência do conhecimento humano. Sou apenas um sobrevivente da terceira idade arrumando as malas para atravessar o grande rio. À margem, deixo uma carga considerável de encantamentos e ideais, alguns concretos, muitos sonhados. De tangível, apenas os seres procriados que continuarão a linha ascendente da dinastia Mozart. É uma profanação não me sentir grato por esses prodígios da vida.
Outro dia acordei e tinha sessenta anos. Percebi na ocasião que eu não sou intelectual, poeta talentoso ou sabedor do beabá de qualquer ciência do conhecimento humano. Sou apenas um sobrevivente da terceira idade arrumando as malas para atravessar o grande rio. À margem, deixo uma carga considerável de encantamentos e ideais, alguns concretos, muitos sonhados. De tangível, apenas os seres procriados que continuarão a linha ascendente da dinastia Mozart. É uma profanação não me sentir grato por esses prodígios da vida.
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