Ainda
sobre Francisco Almeida
Meu compadre poeta Antonio de Pádua Gorrión está editando o folheto “Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia”, pequeno relato sobre um homem valente que sonhou com um mundo mais humano e teve devassado seu corpo por torturadores profissionais. Gorrión deu-me a ordem de produzir mais 12 estrofes para completar a edição. Segue então aqui o trabalho. A linguagem da infâmia deveria ser inepta para a poesia ou para produzir canções. Mas, antes que o silêncio nos corrompa também, é essencial que a gente registre esses fatos.
Chico
Veneno, o homem que intoxicou a burguesia
Autor:
Fábio Mozart
Deixou semente na terra
Dois netos italianos
Tem Iuri e tem o Victor
Sucessores carcamanos
Que devem ter ufania
Do avô e seus bons planos
De lutar pela justiça
Com o próprio sangue aduba
Essa semente de fé
Vide o Biu Pacatuba
Cuja história escrevi
Credo que ninguém derruba.
“Quando o feroz latifúndio
Matou João Pedro Teixeira
O grande Raimundo Asfora
Fez uma frase altaneira:
Disse que matar o homem
Foi uma grande besteira
Porque heróis do seu porte
Vivem de toda maneira,
São vidas imorredouras
Lutando pela bandeira
De justiça e pão na mesa
Nesta nação brasileira.
Eles baterão nas portas
Como uma assombração
De casa grande e engenho
Para sempre viverão
Exigindo mais respeito
Para o camponês irmão.”
Matou João Pedro Teixeira
O grande Raimundo Asfora
Fez uma frase altaneira:
Disse que matar o homem
Foi uma grande besteira
Porque heróis do seu porte
Vivem de toda maneira,
São vidas imorredouras
Lutando pela bandeira
De justiça e pão na mesa
Nesta nação brasileira.
Eles baterão nas portas
Como uma assombração
De casa grande e engenho
Para sempre viverão
Exigindo mais respeito
Para o camponês irmão.”
A sua morte ainda hoje
Nunca foi esclarecida
A versão do suicídio
Por muitos foi rebatida
Pelas circunstâncias dadas
A tese não revalida
O jornalista Alarico
De nome Correia Neto
Que conheceu o Francisco
Tendo por ele afeto
Acha que o autoextermínio
Não é pretexto correto
Para se enunciar
Que Francisco se matou
Por angústia pessoal
Como disso se tratou.
“Esse fato é um mistério
Que a história não desvendou”.
A própria Lourdinha Almeida
Com muita propriedade
Lembra que sua família
Não teve oportunidade
De fornecer uma oitiva
À Comissão da Verdade.
A Comissão investiga
As graves violações
Cometidas por agentes
A mando dos figurões
Contra muitos ativistas
Nos regimes de exceções.
Lourdinha, que é irmã
De Francisco, seu herói,
Acha que o tempo passou
E nada se reconstrói.
“A nós, só resta saudade,
E o mal por si se destrói”.
O fato é que Chico de Almeida
Foi um defensor do povo
Protagonista da História
Perseguidor de algo novo
Chamado revolução
Com o seu grande corcovo.
F I M
F I M
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