As arvores são como os peixes
As
árvores são como os peixes.
O
desfile das árvores nuas
Ninguém
escuta as raízes acoturnadas
Os
membros decepados expõem olhos cegos, caiados
Vigiando
centenas de autos.
Seus
dedos virando cortiças: tão leves
São os
seus necrológios anônimos.
Mantos
em cinza bem escuro
Tapando
poros: as árvores anti-gregárias em suas cores
Vestidas
no peso plúmbeo impenetrável.
É o
desfile das árvores inertes nas cidades.
Árvores
armadas como tropas russas. Os seus uniformes de fuligem.
Prisões
nos asfaltos e calçadas
Sob a
vigilância dos muros pichados
Entoando
a poética dos silêncios.
Mata-fome,
Cacau bravo, Craibeira, Moringa, Mororó...
Ipês,
Sombreiros, gliricídias...
Controladas,
solitárias, imóveis!
Só se
mexem nas tardes de outono
Quando
os ventos singram as ruas e varrem memórias
Roubando
folhas alaranjadas: em sangue.
Movem-se
ainda as quase-árvores
Com os
pássaros nas alturas
Se
apertando com suas cloacas quentes
Para
enganar, em silêncio – a guarda da alma das florestas -
O drible
da dormência das sementes duras.
As
árvores são como os peixes.
Josafá de Orós
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