Ainda existem trovadores neste
país de altos negócios escusos e altas politicagens. Ainda temos corações e mentes
que trabalham o lirismo na arte de poetizar. Um deles é o trovador Antonio
Costta, produtivo vate pilarense que nos presenteia com seu livro de
quadrinhas. Cheio de emoção, entusiasmo e ardor, Costta reverencia a trova
popular em seu mais novo trabalho literário.
As quadrinhas nos remetem aos
primeiros devaneios poéticos na adolescência. Para as meninas, as quadrinhas
circulavam como mimosas formas de mensagens amorosas. Os garotos, esses
gostavam mesmo era das quadrinhas licenciosas, agressoras das normas sociais,
subversivas em seu discurso pornográfico. As que tratavam das relações de
namoro viviam nos cadernos cor de rosa das mocinhas, muitas copiadas de livros
didáticos, ilustradas por coraçõezinhos e inocentes cupidos. As quadrinhas “pervertidas”
eram nervosamente escritas nas paredes dos banheiros ou passavam de mão em mão,
clandestinamente.
Nas nossas ruas de então, cedinho
da noite, as meninas se juntavam em rodas para cantar e fazer aquelas danças
circulares tão próprias de uma época onde as pessoas gostavam de se relacionar,
as crianças brincavam dizendo versos. Quem não soubesse de uma quadrinha de
cor, ou criasse na hora, sairia da brincadeira. Nessa história de jogar versos,
muitas meninas dedicavam às companheiras suas quadrinhas decoradas. As mais
afoitas se inspiravam nos namoradinhos.
Diz que a quadrinha nasceu com a
língua portuguesa no século XII, para prestar culto aos santos. A produção de
Antonio Costta remete muito ao sacro, com muitas quadrinhas dirigidas à sua
divindade, cristão fervoroso que é. Mas, como é da tradição das quadrinhas, o
lírico é a tônica. No geral, o trabalho de Costta enfatiza sua identidade
enquanto cidadão, sua visão de mundo, crenças e valores, com forte influência
de seu território sagrado, a velha Pilar de Zé Lins e Manoel Xudu:
Quem nunca escreveu
um verso
Em Pilar fica
inspirado,
Contemplando o
universo
De Zé Lins com seu
passado.
Com esse DNA cultural, Antonio Costta passeia
no mundo da trova ou quadrinha, poema de quatro versos e sete sílabas em
redondilha maior que tem um nome feio: poema monostrófico. As quadrinhas não
têm títulos. À coleção de Antonio Costta, que ele publica agora, eu daria o título
de “Cantigas de amor e fé de um nobre cavalheiro e menestrel da paz”.
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