segunda-feira, 21 de março de 2016

Todo mundo grampeado


Durante a ditadura militar, telefone era um equipamento difícil, caro e perigoso. Os milicos grampeavam os telefones, principalmente nas repartições públicas. Qualquer palavra considerada “subversiva” já era motivo para prender o interlocutor.

Hoje, todo mundo tem um celular e a tecnologia da escuta telefônica se sofisticou. Polícia Federal vive escutando as conversas das pessoas. Grampearam até a Presidenta do país, num extremo de ousadia e violência contra o Estado de Direito que nunca se viu, nem nos períodos ditatoriais.

Imagina essa galera no poder!

Passei doze dias acamado, com dengue e crise reumática. Li alguns livros, entre eles “Memórias do fogo”, do uruguaio Eduardo Galeano. São contos curtos sobre a América e seus muitos tempos de escuridão.

Uma das narrativas é a lenda da minhoca gigante, dos índios mosetenes. A minhoca não era maior do que um dedo mindinho. Crescia e ficou do tamanho de um braço. Comia corações de pássaros. A serpente devorava corações e crescia. “Quero corações humanos”, disse um dia a serpente, já enorme que não cabia na aldeia. O caçador matou seus irmãos e os povos vizinhos. E a serpente não parava de crescer.

Ninguém se salvou. “A serpente cresceu para o alto e atravessou a noite vazia de corações...”

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